segunda-feira, 25 de março de 2013

Certeza moral e crise da Igreja



Sidney Silveira
Quando a consciência de um homem é assaltada por dúvidas positivas em matéria grave, qualquer ação é, em si mesma, ilícita — como ensinam os bons manuais de Teologia Moral. Isto pelo seguinte fato:quem leva uma ação a cabo com consciência duvidosa a respeito de sua própria licitude aceita, temerariamente, a possibilidade de ofender a Deus e ao próximo. Noutras palavras, em caso de dúvida ou impossibilidade de chegar a uma certeza absoluta, é necessário reunir elementos suficientes para a inteligência alcançar o estado que os grandes tratadistas católicos chamam de certeza moral. Antes disso, convém não iniciar nenhuma ação.
Esse tipo de certeza é próprio das ocasiões em que se torna impossível chegar a certezas especulativas apoiadas em princípios intrínsecos indubitáveis, como são os que nos levam às certezas matemáticas ou metafísicas, por exemplo. A licitude da ação dependerá, pois, do fato de a consciência apoiar-se em princípios reflexos ou extrínsecosdecorrentes dos princípios intrínsecos. Em síntese, os princípios reflexos são assim chamados pelo fato de que lançam uma luz indireta e parcial sobre a ação, mas em grau suficiente para lograr-se a certeza moral na ordem prática. Ressaltemos que a luz, neste caso, não dissipa de todo as trevas especulativas, mas é suficiente para o homem empreender a ação. Analogamente, é como a luz bruxuleante de uma vela que, embora não ilumine o caminho com perfeição, o faz em nível suficiente para o homem poder seguir em frente sem tropeçar.
Eis alguns critérios encontráveis em Santo Afonso de Ligório e outros tratadistas de moral:
Ø  Em caso de dúvida, é preciso considerar atentamente as normas gerais.
Ø  Em caso de dúvida, é preciso julgar pelo que ordinariamente se praticou ao longo do tempo.
Ø  Em caso de dúvida, deve-se pressupor a validez do ato.
Ø  Em caso de dúvida, é preciso orientar-se pelo que, na prática, parece ser mais seguro.
Ø  Em caso de dúvida, é preciso considerar se o ato em questão favorece ou contraria a lei e os princípios da ordem moral.
Ø  Em caso de dúvida, convém colher a opinião de pessoa douta ou sábia na matéria.
Ø  Etc.

Com tais bússolas um homem se nutre de razões suficientes para chegar à certeza moral. E aí, sim: tendo-a no horizonte, habilita-se a empreender a ação de forma lícita mesmo quando erra. Esta última advertência não nos custa fazer pelo simples fato de que a especificação do ato moral não se dá pelo resultado prático da ação, mas pela intenção do agente. É esta que define se a ação foi boa ou má, justa ou injusta. Assim, um professor imbuído da reta intenção de ensinar a matéria, mas que por alguma razão acidental não consegue, é moralmente mais digno que o professor negligente que, numa frase fortuita, acaba sem querer passando determinado ensinamento ao aluno.
Em breves palavras, todo homem tem a obrigação de empregar os meios possíveis para chegar a uma consciência verdadeira e reta antes de obrar, sobretudo nas ocasiões de extrema gravidade. Só assim se pode alcançar a certeza moral que lhe servirá de critério mais ou menos seguro para agir. Portanto, se a perplexidade de qualquer situação se impõe à consciência de uma pessoa — seja em razão do escândalo, seja em razão de contrariar o bom senso, seja em razão de favorecer o mal em detrimento do bem, seja em razão de ir contra a lei, etc. —, é dever dela se munir de critérios que a conduzam à certeza moral. Caso contrário, o pecado de omissão é gravíssimo.
Esta é, a propósito, a situação de pessoas cuja covardia se reveste do molde da falsa boa consciência, esta mesma que as faz acusar temerariamente quem não se mantém no marasmo, como elas. Em verdade, com total incerteza moral alegam agir com prudência e movidas por amor a um bem maior; infelizmente, trata-se da chamadaprudência da carne — tipificada, em sentido próprio, não pelo amor ao bem, mas pela hesitação culposa entre o bem e o mal, pelo temor mundano de ferir susceptibilidades ou perder algum benefício adquirido.
Muitas dessas pessoas boazinhas deixam escapar um afetado esgar de nojo ao ler as críticas construtivas de quem, tomando como critério a Tradição, o Magistério e a prática bimilenar da Igreja, aponta as absurdidades que a vem corroendo nas últimas décadas. Absurdidades doutrinais, pastorais, litúrgicas, canônicas, magisteriais, dogmáticas e políticas. Ora, como esses bons moços desconsideram muitos dos critérios que poderiam levá-los a julgar a situação presente munidos de uma certeza moral, acabam por se tornar acusadores daqueles cuja ação se transforma no incômodo espelho diante do qual as suas consciências remordem a si mesmas. Na prática, as acusações que engendram são mera autodefesa psicológica,mecanismo típico da neurose.
Pois bem. Uma das acusações dessa gente de tão bom coração e ilibada índole é a seguinte: os “tradicionalistas” são sedevacantistas práticos, pessoas movidas por um orgulho insano manifestado pela desobediência em que caíram. No que nos diz respeito, como o ônus da prova é de quem acusa, desafiamos estes eruditos conhecedores da doutrina católica a provar isto com razões suficientes — e com a devida associação da teoria a exemplos práticos. Tipo assim: seria desobediência sedevacantista apontar publicamente a absurdidade do discurso do Papa Francisco em prol de uma Igrejapobre e para os pobres? Essa opinião do Papa é porventura magisterial? Tem ela a intenção declarada de se impor aos fiéis católicos como doutrina a ser seguida? Divergir dela é, por acaso, desobediência? Etc.
Apenas aconselhamos a estes homens cuja  habitual prudência é fechar os olhos para não ver, e tapar o nariz para não sentir eventuais odores nauseabundos, a estudar muito bem antes de dar razões à sua desrazão, ou seja: antes de se lançar à demonstração cabal de que somos uma espécie de "sedevacanista prático".
Se porventura forem dialeticamente degolados, sirva-lhes de consolo que o terão sido com e por amor. O mesmo amor à Igreja que eles alegam em sua defesa ao acusar moralmente o próximo.
P.S. Escolhemos este breve vídeo do falecido Prof. Orlando Fedeli não apenas porque subscrevemos integramente o que ali se diz, mas também porque o trecho em que ele menciona D. Hélder Câmara é muitíssimo a propósito para ilustrar o momento presente.
Fonte: http://contraimpugnantes.blogspot.com.br/2013/03/a-certeza-moral-e-crise-da-igreja.html

Pauperismo: a velha humildade herética — e o momento atual




“O católico que coloca questões políticas à frente das doutrinais é o sujeito que concedeu indulgência plenária à sua própria estupidez”.
Sidney Silveira
A exibição histriônica da humildade deixa, ipso facto, de ser humildade. Isto pelo simples fato de que a humildade é, antes e acima de tudo, o ato interior da vontade pelo qual alguém refreia o afã de ser louvado e reconhecido, ao mesmo tempo em que se imbui de um notável espírito de serviço. Mas aqui vem a pergunta decisiva: qualquer serviço? Não. Um milhão de vezes, não! Os demônios, por exemplo, servem a Lúcifer — o superior deles na hierarquia satânica — não porque sejam humildes, pois, como ensina Santo Tomás, a obediência de uns a outros é tirânica. Em suma, entre os demônios a concórdia na maldade não procede da amizade, a qual pressupõe o amor que lhes falta, nem do espírito de humildade, mas do seu ódio aos homens e à justiça divina.[1] A coincidência deles no mal se dá por meio de uma agônica submissão dos menos poderosos aos mais poderosos.
Ratifiquemos tudo isso com poucas palavras: nem todo servir é humildade. Há um servir que é soberba pura, cupidez, engano, vontade de poder e de supremacia despótica sobre as demais pessoas. Vamos a um exemplo simples: quando comparsas obedecem ao chefe da quadrilha, o seu serviço nada tem de humilde, nem denota amizade ao líder: ele provém do maldoso desejo comum de obter bens de maneira ilícita, contrária à ordem da justiça. Aqui não existe o despojamento espiritual que caracteriza a humildade, muito menos o fim bom que a especifica, moralmente. Em síntese, a humildade é para o bem, por bem e com o bem, daí ser a rainha das virtudes cristãs, do ponto de vista da razão prática. Ademais, ela se baseia na submissão a Deus e no reconhecimento da nossa absoluta miséria perante o Altíssimo. Não é o caso de desenvolver neste breve texto o tema, mas deixemos registrado que um ateu humilde é mera contradictio in terminis, porque lhe faltam os motivos conformadores da humildade.
Estabelecido, pois, o princípio de que a humildade é um ato interior que radica na vontade, e de que nem todo serviçal é humilde, falemos agora de uma antiga forma de macaquear ou distorcer a humildade: associá-la exageradamente à pobreza material e ao serviço aos pobres. Essa velha heresia tem um nome: pauperismo. Foi condenada pelo Magistério da Igreja, e com toda razão. Segundo os seus propugnadores, a pobreza é o sinal distintivo da virtude evangélica, não sendo lícito possuir nenhum (!) bem material próprio, como também bens comunitários. Tal doutrina possui um viés notadamente gnóstico — ou seja, de aversão à matéria, como se esta fosse a distinção ontológica do mal —, e não por outro motivo foi pregada entre cátaros, valdenses, e “espirituais” franciscanos que, na Idade Média, fizeram de tudo para destruir a autoridade do Papa e, por conseguinte, a força do Papado.
Imbuídos dessa falsa humildade que encobria a mais insana soberba, tais homens tentaram corroer os alicerces doutrinais da Igreja com incrível pertinácia, sempre lançando mão de astuciosos sofismas. O Papa João XXII, que a propósito canonizara Santo Tomás de Aquino, pôs fim aos exageros pauperísticos desses fanáticos fraticelli, ao condenar a sua posição como herética e totalmente contrária à verdadeira pobreza evangélica — a qual é voluntária, sim, mas jamais absoluta. Em verdade, esses fraticelli não eram animados por nenhum espírito fraternal, pois trabalhavam para matar um dos princípios que transformam em irmãos os homens marcados pela fé em Cristo: a obediência à autoridade do Magistério tradicional da Igreja. Eram, na prática, fratricidas espirituais que procuravam transformar um conselho evangélico em preceito, fazer dele um “dogma” fundamental, entre outras coisas porque eram estrondosos analfabetos teológicos.
Passados seis séculos e meio daquele período agitado em que se inicia o longo declínio da Cristandade, a chamada “opção preferencial pelos pobres” foi a expressão eufemística com a qual esta antiga heresia renasceu camuflada, no final da década de 60 do século passado, com o verniz do marxismo e o mesmíssimo ódio à autoridade (magisterial e jurídica) do Vigário de Cristo — assim como movida por uma ojeriza invencível ao caráter monárquico e hierocrático do Papado. Tratava-se, tanto na Idade Média como na época imediatamente posterior ao Concílio Vaticano II, de uma verdadeira sedição empacotada em formato de má-teologia, ou melhor: de diabolice com fumos de sabedoria teológica. Era o surgimento da funesta Teologia da Libertação (TL), direta ou indiretamente incentivada por clérigos vaticano-secundistas. Aqui não nos custa lembrar que Joseph Ratzinger patrocinou a publicação da tese de doutoramento de Leonardo Boff... Será que Ratzinger via hegelianamente em Boff um teólogo de futuro?
A disseminação desse joio marxista com o incentivo de homens influentes da própria Igreja passou despercebida pelos tolos e pelos “otimistas”, que sempre servem de fermento para as revoluções. A propósito, no caso do catolicismo, os otimistas cegos são adeptos do esporte radical de cair das nuvens: não dominando bem os princípios, são facilmente manipuláveis por quem os queira deturpar, e depois se mostram “chocados” — com ar de donzela  violentada — quando não dá mais para sustentar a sua cegueira voluntária. São massa de manobra bastante útil para o andamento da revolução que, há cinqüenta anos, vem autodemolindo a Igreja. É o caso de pessoas que, a esta altura dos acontecimentos, ainda acreditam no conto da Carochinha chamadohermenêutica da continuidade, e se recusam a enxergar que a desgraça atual está essencialmente ligada aos falsos princípios que inspiraram os textos do Concílio Vaticano II.
São exatamente estes católicos deveras tolerantes para com os desvios e as imprecisões doutrinais que parecem não enxergar a hidra marxista da TL, por trás do discurso do Papa Francisco a favor de uma Igreja pobre e para os pobres.
A estes, vale lembrar algo que deveria ser óbvio:
Ø  Não é papel da Igreja resolver o problema da pobreza no mundo. A função dela é salvar as almas, valendo-se para tanto dos seus carismas, do seu ministério, do seu Magistério, dos sacramentos, etc. É claro que os conflitos sociais e a injustiça tendem a ser minorados numa sociedade que aceita o Evangelho, mas isto nada tem a ver com a instituição de uma Igreja pobre e para os pobres.
Convém, ao contrário, que a Igreja seja institucionalmente rica e politicamente poderosa, para que não lhe faltem meios materiais para o exercício de seu múnus salvífico, e para que ela não seja constrangida pelos poderosos do mundo em sua atuação. A propósito, quando Platão — a certa altura da República — nos diz que, numa sociedade ideal, é conveniente a riqueza estar nas mãos de homens devotados às coisas do espírito (referindo-se ali aos filósofos), e não com homens cúpidos, ímpios ou aproveitadores, nos aponta o seguinte: mesmo o antigo paganismo tinha noção da hierarquia dos bens a ser custodiados, para que os alicerces sociais se mantenham de pé.
Portanto, não confundamos Cristo com Barrabás. A revolução de Cristo faz os Santos; a revolução de Barrabás faz os Stálins. Ademais, não sendo a pobreza em si um mal, nem muito menos um empecilho à salvação (o Evangelho inclusive nos aconselha a ela, para melhor seguimento de Cristo), é flagrante contra-senso pensar que a Igreja deva ser para os pobres. Ora, muito mais do que para os necessitados materiais, o seu trabalho deve voltar-se para os necessitados espirituais. É claro que isto não exclui o fato de que ela possa incentivar a criação de irmandades voltadas ao auxílio aos pobres, como sempre o fez, mas constranger ou reduzir a isto o seu papel é aberração, pura e simples.
A pobreza só é indigna fora dos princípios cristãos.

Francisco, o humilde “Papa dos pobres”?
Agora, muitas dessas pessoas que têm o hábito de se precipitar das nuvens estão se dizendo “chocadas” com o ecumenismo do Cardeal Bergoglio, eleito Papa Francisco; dizem-se temerosas de que a suasalada litúrgica, tão contrária à sacralidade, e tão ao estilo pós-conciliar, tome conta de Roma; escandalizam-se com a sua declarada intenção de que a Igreja seja pobre e para os pobres; com o seu constrangimento em dar bênçãos públicas, para não ferir a consciência dos não-católicos, como na ocasião em que agradeceu aos jornalistas que cobriram o Conclave, sem contudo deixar de lhes dizer que, crendo ou não, “todos são filhos de Deus” (até então, éramos filhos de Deus porque irmãos em Cristo, mas a nova fraternidade à moda da Revolução Francesa excluiu a filiação adotiva, a qual antes assumíamos apenas ao aceitar Nosso Senhor e Sua Igreja); etc.  
Não conseguem ver a perfeita linha de continuidade entre todos os Papas conciliares, que culmina no atual. Este, em pouquíssimo tempo de pontificado, já mostrou a que veio, e o mundo começa a amá-lo, a “adorá-lo”. E não por menos: trata-se do homem flagrantemente ecumênico na cúpula da Igreja, como o mundo quer; do homem que, alegando humildade, dispensa até os tradicionais paramentos papais e os chama de... carnavalescos! Do homem que é “humilde” porque anda de ônibus, cozinha a própria comida e caminha entre o povo. Ó, humildade, flor das virtudes cristãs, a que arremedo de si mesma te reduziram?
A propósito, ao ler por estes dias no Frates in Unum (e depois checar com outras fontes) as palavras que o Papa Francisco dirigiu, diante de algumas testemunhas, ao cerimoniário pontifício Mons. Guido Marini, enfatizando que “o tempo do carnaval acabou”, referindo-se aos paramentos tradicionais, não pude evitar as lágrimas, e foram muitas, muitíssimas. Mas não foram lágrimas de quem foi pego de surpresa, e sim de quem vê o caos instaurado de forma humanamente impossível de reverter — embora de Deus sempre possamos esperar o milagre de reapostolicizar a hierarquia eclesiástica, fazê-la perder os pruridos diplomáticos e as susceptibilidades baseadas na “liberdade de consciência”.
Os católicos tradicionais — chamados de “tradicionalistas” por seus detratores liberais — precisarão de uma dose suplementar de heroísmo para não sucumbir ao tsunami que desponta no horizonte. A hora é de provação. Serão inculpados ou acusados de ferir a “unidade” da Igreja, e em geral os acusadores serão pessoas que mal leram um manual de teologia (quanto mais o Magistério e os Santos Doutores), e por isso ignoram que a unidade cristã só se dá na integralidade da fé. Serão caluniados por pessoas que acham que a defesa de artigos da lei natural (como as questões relativas ao aborto, etc.) basta para a unidade cristã, visto considerarem o aspecto político em primeiro lugar. Ocorre o seguinte: o católico que coloca questões políticas à frente das doutrinais é o sujeito que concedeu indulgência plenária à sua própria estupidez; dele poderíamos dizer shakespearianamente que faz da ignorância a melhor defesa. Mas não lhe respondamos; o melhor é calar perante quem confunde solidariedade com caridade, politicagem com esperança e opinião pessoal com fé.
Pois bem. Ao contrário do que pensavam Kierkegaard e Karl Barth, a fé não é um salto no absurdo, mas sim um salto na mais ofuscante luz, como dizia o Pe. Penido, eminente tomista brasileiro. E essa luz não é outra senão a da cruz. Ad lucem per crucem: a caminho da luz, pela cruz. Este é o dístico do cristão, que nada tem de bandeira ideológica ou política. E, num momento como o atual, ele deve ser o guia maior para os que amam a Igreja e a vêem tão dramaticamente desrespeitada. E não apenas pelo mundo, mas pelas próprias autoridades eclesiásticas.
Aos amigos tradicionais que porventura se sentirem constrangidos pelas difamações e detrações que, a partir de agora, hão de se multiplicar, entre as quais o doce apelido de "sedevacantista prático" é o mínimo, vale o conselho: lancem em rosto dos acusadores o “dogma” por eles defendido (implícita ou explicitamente) da intocabilidade da consciência individual. Esta mesma que o recém-eleito Papa Francisco tanto demonstra respeitar nos ateus, nos não-católicos e nos adeptos de outras religiões.
Mostrem a eles que vocês não podem contrariar as suas consciências católicas, pois a isto seria preferível a morte.
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1- Cfme. Tomás de AquinoSuma Teológica, I, q.109.

Fonte: http://contraimpugnantes.blogspot.com.br/2013/03/pauperismo-velha-humildade-heretica-e-o.html

quarta-feira, 20 de março de 2013

Qui minor est inter vos, hic major est.




A doutrina segundo a qual São José é o maior dos santos depois da Virgem Maria tende a tornar-se uma doutrina comumente aceita na Igreja, que não teme declarar o humilde carpinteiro superior em graça e em beatitude aos patriarcas, a Moisés, aos maiores dos profetas, a São João Batista, e também aos apóstolos, a São Pedro, a São João, a São Paulo, e por mais forte razão superior em santidade aos maiores mártires e aos maiores doutores da Igreja. O menor, por sua profunda humildade, é em razão da conexão das virtudes, o maior pela elevação da caridade: “Qui minor est inter vos, hic major est” (Luc. IX, 48). [...]
[Essa doutrina] recebeu a aprovação de Leão XIII na encíclica Quanquam pluries, de agosto de 1899, escrita para proclamar o patrocínio de São José sobre a Igreja universal. Ele diz: “Certamente a dignidade da Mãe de Deus é tão alta que nada pôde ser criado acima dela. No entanto, como José foi unido à bem-aventurada Virgem pelo laço conjugal, não se pode duvidar que ele se tenha aproximado, mais do que ninguém, dessa dignidade supereminente pela qual a Mãe de Deus ultrapassa tanto todas as naturezas criadas. A união conjugal é, com efeito, a maior de todas; em razão de sua própria natureza, ela acompanha-se da comunicação recíproca dos bens dos dois esposos. Se, pois, Deus deu à Virgem José como esposo, certamente não somente o deu como apoio na vida, como testemunho de sua virgindade, guarda de sua honra, mas o fez também participar, pelo laço conjugal, da eminente dignidade que ela recebeu”. [...]
Tendo Leão XIII afirmado que São José se aproximou mais do que ninguém da dignidade supereminente da Mãe de Deus, segue-se que, na glória, ele está acima de todos os anjos? Não o poderíamos afirmar com certeza; contentemo-nos em exprimir a doutrina cada vez mais aceita pela Igreja, dizendo: De todos os santos, José é o mais elevado no céu depois de Jesus e Maria; ele está entre os anjos e os arcanjos. [...] A perfeição consiste em fazer aquilo que Deus quer, cada um segundo a sua vocação; mas no silêncio e na obscuridade a vocação de José ultrapassa a vocação dos apóstolos, porque toca mais de perto o mistério da Encarnação redentora. José, depois de Maria, foi quem esteve mais próximo do autor da graça, e, no silêncio de Belém, durante a estada no Egito e na casinha de Nazaré, recebeu mais graça do que nenhum outro santo jamais recebeu.

terça-feira, 19 de março de 2013

Missa Tridentina em Betim no mês de março

Prezados leitores e amigos,
Salve Maria Imaculada!

Divulgamos os horários e local para a celebração da Santa Missa em Betim neste mês de março com o Rev. Padre Ernesto Cardozo.

Local: Rua Maria Geralda de Oliveira, nº 274, (antiga rua 11) bairro Quinta dos Godoy, em Betim/MG.

Sexta-feira, 22/03 - 19h30.
Sábado, 23/03 - 10h00.

Contato: 3596-5097 - Sr. Fernando

Salve Maria!

Uma pergunta catolicamente chata e, para muitos, inoportuna: o que esperar de um ecumenista convicto à frente do Papado?





“Tua perdição é obra tua, Israel. Tua força é obra Minha”.
(Os. XIII, 9)
Sidney Silveira
Um bispo católico que se ajoelha diante de um pastor evangélico para receber o “dom” da sabedoria ecumênica manifesta, com tal ato, algum tipo de humildade? E outra: é verdadeira humildade calar a verdade da fé no “diálogo” com outras religiões ou seitas?
À primeira pergunta podemos responder dizendo o seguinte:
1-  se Cristo nada tem a aprender com Nicodemos, muito menos terá a aprender com Lutero e seus descendentes; e
2-  a verdadeira humildade, antes e acima de tudo, é uma reverência pela qual o homem se submete a Deus, como ensina Santo Tomás. Nas palavras do Doutor Comum, o homem deve submeter-se ao próximo única e exclusivamente naquilo em que nele há de semelhança com Deus (cfme. Suma Teológica, II-II, q.161, art. 3, resp), e não no que nele haja de humano ou de não cristão — ou ainda de falsamente cristão, o que é pior.
Neste último caso, não é humildade submeter-se; ao contrário, é anuência ao mal ou rebaixamento indevido diante de um inferior. A título de analogia, seria mais ou menos como um expert em metafísica concordar reverentemente com qualquer neófito saído dos cueiros que fala uma bobagem sem tamanho, apenas para não ferir as suas juvenis susceptibilidades.
À segunda pergunta podemos responder dizendo o seguinte:
1-  a regra da humildade cristã é a verdade evangélica, da qual a Igreja Católica é a única custodiadora, por missão divina. Esta é a doutrina bimilenar, quer gostemos, quer não. Quer o mundo a aceite, quer não. Por isso a Igreja sempre foi um signo de divisão e os líderes de seitas cristãs sempre foram chamados pelos Papas a se arrepender e a retornar à Santa Madre Igreja — isto até que batesse o vendaval do Vaticano II e inaugurasse um virulento ecumenismo totalmente anticatólico... intra muros Ecclesiae!
2-  O único diálogo possível é o apostólico: convertam-se à religião verdadeira fundada por Cristo, o Verbo encarnado. Simples desta forma: sim, sim, não, não.
Ai, que coisa chata e antiquada! Ai, que coisa antimoderna e antidialogante! Ai, quanta intolerância!
Pois bem. O recém-eleito Papa Francisco tem um passado de grande propagador do ecumenismo — que, dentre os crimes contra a fé, talvez seja o pior de todos, por seu caráter insidioso e corrosivo. Então repitamos a pergunta do título, incômoda para muitos no momento presente: o que esperar de um Papa ecumenista convicto? Resposta: o milagre de uma conversão à doutrina católica integral.
É possível? Sim. É provável? Não, pois a história da Igreja está aí para nos mostrar que o modo ordinário de Deus agir não é este.
A hora é grave. Gravíssima. Um divisor de águas se aproxima e parece que todos teremos de tomar uma posição clara em breve — inclusive muitos dos chamados conservadores “linhas-médias”.
Movido pelo Espírito Santo, o Papa Francisco contrariará o Cardeal Bergoglio? Ou dará razão a Leonardo Boff, para quem ele é a grande esperança do estabelecimento de uma Igreja pancristã mundial, ou seja, a abominação da desolação no lugar santo?
Logo saberemos.
P.S. Queríamos, de verdade, postar algo muito, muito diferente — num dia tão festivo para a maioria dos católicos. Mas estas são indagações que, a nosso ver, todo católico verdadeiramente amante da Igreja deveria fazer na hora presente. Além de rezar sobretudo pelo Papado, ao qual o Papa deve servir. Isto por um motivo bem simples: nenhum Papa está acima do Papado.

Fonte: http://contraimpugnantes.blogspot.com.br/2013/03/uma-pergunta-catolicamente-chata-e-para.html

segunda-feira, 18 de março de 2013

“Comentários Eleison” CCXCVI (16 de março de 2013) :




DIGNIDADE INDIGNA

      Uma leitora argumentou em favor do Vaticano II ensinando sobre a liberdade religiosa. Com certeza vale à pena analisar os argumentos dela, mesmo que o assunto tenha frequentemente aparecido nos “Comentários Eleison”, porque é vital para os católicos de hoje que compreendam completamente a falsidade daquele ensino. O que o Concílio ensinou no parágrafo n.2 de sua Declaração Sobre a Liberdade Religiosa (Dignitatis Humanae) é que todos os homens devem ser livres de toda coerção por qualquer outro homem ou grupo de homens quando atua em privado ou em público de acordo com suas crenças.
      Ao contrário, em todo o caminho até o Vaticano II a Igreja Católica ensinou constantemente que cada Estado, ao incorporar a autoridade civil de Deus sobre as criaturas humanas de Deus, é obrigado, assim, a usar essa autoridade para proteger e favorecer a única verdadeira Igreja de Deus, a Igreja Católica do Deus Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo. Obviamente, Estados não-católicos serão condenados mais por sua falta de fé do que por não proverem proteção civil a essa fé. Além disso, Estados Católicos podem evitar proibir o culto público das falsas religiões onde tal proibição causará mais dano do que bem para a salvação das almas dos cidadãos. Mas o princípio se mantém intacto: os Estados de Deus devem proteger a verdadeira religião de Deus.
      De fato, o ensino Conciliar implica tanto que os Estados não são de Deus, ou que não há nenhuma verdadeira religião de Deus. De qualquer modo, isso está implicitamente liberando o Estado de Deus, e então pondo a liberdade do homem acima dos direitos de Deus, ou, simplesmente, o homem acima de Deus. Por isso o Arcebispo Lefebvre disse que o ensino Conciliar era blasfemo. E não adianta dizer que os outros parágrafos da DH contêm bons ensinamentos católicos. Um corte do iceberg foi o bastante para afundar o Titanic. Somente o item 2 da DH é o bastante para afundar a doutrina católica. Mas vejamos os argumentos em defesa do ensino do Concílio.
      A DH é parte do Magistério Ordinário da Igreja, que deve ser levado seriamente.
     A DH veio dos Magisters da Igreja, ou mestres, sim, mas não do Magistério Ordinário Infalível, porque a DH contradiz o ensino tradicional da Igreja, como mostrado acima.
      2  A DH simplesmente deixa claro os direitos humanos, que são concedidos pela lei natural.
      A lei natural coloca os direitos do homem abaixo, e não acima dos direitos de Deus.
      3  A DH não nega o modelo católico para as relações Igreja-Estado.
      Isso ela certamente faz! O parágrafo n.2 libera o Estado de sua obrigação essencial para com a única verdadeira Igreja.
     4  A DH é escrita no contexto do mundo moderno onde todos acreditam nos direitos humanos.
      Desde quando a Igreja deve ser adaptada ao mundo, e não o mundo à Igreja?
      5  A DH não ensina que o homem tem o direito de errar.
      Se o Estado de Deus é obrigado a conceder o direito civil de praticar em público as falsas religiões, então está se fazendo com que Deus deva garantir o direito ao erro.
      6. A DH  é um apelo para que os governos modernos concedam metade de um pão, que é melhor do que nenhum pão.
      A verdadeira doutrina católica é tão lógica e tão coerente que dar algo disso é dar tudo disso. E qual ovelha salva a si mesma se entregando ao lobo?
      Os católicos não devem fugir do mundo moderno para um gueto doutrinário.
      Os católicos devem fazer o que quer que tenham que fazer, ir para onde quer que tenham que ir, para não abandonar os direitos de Deus e não comprometer a sua honra. Se isso significa o martírio, então que seja!
           
      Kyrie eleison.

Fonte: http://spessantotomas.blogspot.com.br/2013/03/comentarios-eleison-ccxcvi-16-de-marco.html

sexta-feira, 15 de março de 2013

Sobre a Renovação Carismática Católica


 O Desdobramento
              Um outro desdobramento da árvore Carismática, que não podemos deixar passar despercebido é o fenômeno conhecido pelos seus seguidores como "Movimento Mariano"e pra quem está do lado de fora como "Aparição Mania". Apesar de uma profunda avaliação desse aspecto  não ser o objetivo desse artigo, os frutos maiores e mais venenosos deverão certamente ser demonstrados. Maiores considerações a respeito podem ser encontrados no livro de Michael Davis "Medjugorje-A Warning".
            Os Carismáticos sempre tiveram um lugar especial (mas não muito especial) para a Bem- Aventurada Virgem, chamando-a de "a Primeira Carismática", aquela que "concebeu pelo poder do Espírito Santo" e que "estava presente no Cenáculo quando os discípulos de Jesus ficaram cheios do Espírito Santo".
            Como muitos Carismáticos admitem, o Movimento Mariano estava começando a minguar por volta do início da década de 80. Mas de repente as assim chamadas aparições começaram a pipocar em diferentes locais no mundo inteiro e uma outra bem maior foi anunciada semanas antes  do acontecimento num Encontro da RCC em Roma. Uma "profecia" foi proferida concernente a uma aparição que começaria  dali há poucos dias nas Balcãs- Bósnia Herzegovina. Como foi prometido, Nossa Senhora teria aparecido na data marcada e desde então vem aparecendo quase que diariamente!
            Obviamente que as supostas manifestações alegadas pelos Carismáticos e as supostas aparições reinvindicadas pelos "videntes" de Medjugorje caem em duas categorias bem diferentes de fenômeno sobrenatural, mas a sobreposição entre os Carismáticos e os seguidores de Medjugorje é quase completa na descrição do autor do livro .
            Os Carismáticos voam em bando para Medjugorje, apesar da Igreja desencorajar tais peregrinações e apesar do julgamento do Bispo Diocesano, o qual declara que as supostas aparições não são autênticas de modo algum. Qualquer um deveria chegar à conclusão que um "espírito" que os leva a desobedecer a uma proibição explícita de Roma, bem como uma "Nossa Senhora" que leva os franciscanos encarregados da paróquia de Medjugorje, a menosprezarem as censuras de seu Bispo Diocesano por causa de suas atitudes pecaminosas, de forma alguma pode vir de Deus. Mas infelizmente, enquanto os "rosários" e outros souvenirs continuarem se convertendo em ouro, ninguém parece estar muito preocupado com essas questões.
            Ali "Nossa Senhora" supostamente estaria dando mensagens periódicas ao mundo. Mensagens que por mais estranho que pareça, são muito parecidas com as profecias proferidas pelos Carismáticos em seus grupos de oração. O conteúdo, nem precisamos mencionar, fica ao nível do primeiro grau de uma escola de Catecismo e o estilo normalmente é uma mistura de caráter sentimental. Mais abaixo apresentamos um paralelo entre dois exemplos:

            Profecia Carismática:
            "Meu povo, Eu coloquei o meu louvor em seus lábios. Ponham o meu louvor em cada situação de suas vidas e eu mostrarei-lhes o poder do meu louvor, diz o Senhor! Meu povo, dêem as costas para o mal, venham até mim. estejam no mundo, mas não sejam do mundo, honrem o Meu Filho e Eu darei-lhes paz e contentamento, diz o Senhor! Mesmo se uma mulher esquecesse o filho que ela gerou, eu não me esqueceria de vocês. Seu nome está escrito na palma de minha mão, diz o Senhor. Tragam-me os doentes e eu os curarei, suas preocupações eu as dispersarei, seus fardos e eu os carregarei. Meu povo, eu quero vos libertar, diz o Senhor." ( Livro: O Carisma da Profecia- Andy O'Neill)

Mensagem de Medjugorje de 9 de maio de 1985

            Caros filhinhos! Vocês não sabem quantas graças Deus está derramando sobre vocês nesses dias em que o Espírito santo está agindo de modo especial. Vocês não querem avançar. Seus corações estão voltados para as coisas terrenas e vocês se mantêm ocupados por elas. Voltem seus corações para a oração e peçam para que o Espírito Santo seja derramado sobre vocês. Obrigado por terem respondido ao meu chamado. (Fr. René Laurentin- As Aparições de Medjugorge continuam)
            As mentiras, o engano, a desobediência e o escândalo aberto por parte de membros do clero, que envolvem essa suposta aparição, deveriam ser sinais  mais do que suficientes para convencer qualquer um de sua falsidade. A proibição de Roma no tocante às peregrinações e a decisão do Bispo diocesano sobre a autenticidade do fenômeno tem mantido os Católicos obedientes afastados de toda essa confusão. Mas ainda assim o povo vai em massa, aos milhares por ano, por causa dos chamados "bons frutos", ou seja, as assim chamadas conversões, curas, milagres do sol...etc.
            A Fé Católica sempre ensinou que verdade e erro não se misturam, nem bem com o mal, nem verdade com falsidade. Como já foi dito antes, Satanás não se importa  de maneira alguma se as pessoas resolvem seguir essa ou aquela peregrinação, orar mais e até se sentirem mais tocadas emocionalmente em relação a Deus ou à Virgem Maria, pelo contrário, ele até ajuda com os bilhetes do avião, desde que tudo isso contribua de algum modo para levá-los direto para o inferno no final das contas.

         Uma Comparação entre Idéias Carismáticas e a Doutrina Católica
            Numa análise final, a ortodoxia de qualquer crença ou prática não depende tanto de como uma pessoa se sente a respeito, ou do que o padre, bispo e até mesmo o Papa (quando ensina apenas como um teólogo) diz a respeito, e sim da autoridade do Magistério perene da Igreja. O constante ensinamento de Papas e Concílios nesses quase 2000 anos de história da Igreja é que determina se uma crença particular é de fato Católica ou não. A negação desse fator básico pelos Católicos liberais é o motivo principal da crise na qual a Igreja se encontra mergulhada nos dias de hoje. Portanto não é de se admirar que encontremos os Carismáticos de hoje, sustentando  crenças e práticas que há somente 50 anos atrás teriam lhes causado os maiores problemas com as autoridades da Igreja.
            De modo a termos um claro panorama do que há de errado com a RCC, é necessário examinar seus princípios básicos à luz da Doutrina Católica. Apesar de estar muito além do objetivo dessa tese, fazer uma análise teológica detalhada do movimento, vários pontos básicos serão levantados. Tais questões poderão ser aprofundadas posteriormente por teólogos competentes.
            Embora a RCC seja um "grupo de grupinhos" vasto em número e intencionalmente impreciso do ponto de vista doutrinal, certos princípios específicos podem ser decodificados a partir da vasta literatura Carismática disponível. Esses princípios podem até não ser conscientemente apoiados por todos os Carismáticos em geral, mas eles podem ser frequentemente encontrados- explicitamente ou implicitamente- em seus escritos.
             Idéias Fenomenalistas
            O Fenomenalismo, cujas raízes procedem do Iluminismo do século 18, é o principal fator subjacente do Movimento Carismático. A Enciclopédia Católica define o fenomenalismo da seguinte maneira:
            Fenomenalismo literalmente significa qualquer sistema de pensamento que tem a ver com as aparências. O termo contudo, é comumente restrito `a designação de certas teorias pelos que elas determinam: 1- que não existe nenhum outro conhecimento o não ser o próprio fenômeno- negação da substância no senso metafísico; ou 2- que todo conhecimento é fenomenal- negação do objeto em si e determinação de que toda a realidade é diretamente ou reflectivamente presente no inconsciente.
            Portanto, para o Carismático, uma pessoa não conhece verdadeiramente Deus, enquanto não tiver "experimentado" Deus de forma consciente, ou seja, enquanto não tiver tido uma experiência sensorial ( normalmente emocional e às vezes até física, como no caso da glossolalia, ou "falar em línguas"). De fato, a "experiência espiritual"  chega a anular a Revelação pública e os quase 2000 anos de ensinamento do Magistério Católico em matérias, tais como, só pra citar um exemplo,  o Ecumenismo.
            Para o Carismático, a mera presença hoje em dia de um fenômeno supostamente idêntico aos verdadeiros carismas presentes na Igreja Primitiva já é o bastante para provar sua orígem divina. A experiência é o que importa, não o questionamento legítimo do intelecto, tal como "Por que esse intervalo de quase 2000 anos?" Seria essa experiência a mesma do fenômeno descrito nas Escrituras? Estaria esse "espírito" guiando-nos para uma vida plenamente Católica ou rumo à apostasia? O fracasso dos Carismáticos em fazer um autêntico discernimento dos espíritos é possivelmente sua gafe mais perigosa, uma vez que o demônio é capaz de operar prodígios, os quais são como imitações ou mímicas daqueles fenômenos verdadeiramente realizados por Deus.
            De fato, o intelecto é radicalmente descartado pelos membros da RCC. Existe uma conversa generalizada a respeito da assim-chamada "18 polegadas da cabeça para o coração" em quase toda literatura Carismática nos primeiros níveis do "crescimento espiritual". Como já foi dito anteriormente, tal "conhecimento do coração",  que nada mais é senão confortantes e agradáveis sentimentos em relação à Deus, de forma alguma é algo espiritual e sim puramente emocional- o que também significa físico! Esses escritores e autores Carismáticos desprezam de tal forma o intelecto, como se Deus não o tivesse dado ao homem para seu próprio proveito: "Intellectum tibi dabo"( Salmo. 31)
            Para a mente fenomenalista do Carismático, nem mesmo os Sacramentos estão imunes ao pensamento subjetivista a respeito da graça. Os Católicos sabem que o sacramento produz a graça ex opere operato, independente do estado espiritual do ministro ou do recipiente. Naturalmente o recipiente pode estar mais ou menos bem disposto para receber as graças concedidas, mas a graça é produzida independente das disposições subjetivas das partes envolvidas. Para o Carismático, qualquer coisa na vida espiritual que não produz uma consolação subjetiva ou emoção, não é experiência de fé válida e portanto, não confere a graça.
            Assim, o seguinte trecho do livro  "Healings Sacraments" escrito por um sacerdote Carismático sobre a Confissão, nos dá um bom exemplo disso:
"Durante o Sacramento da Reconciliação nós recebemos a cura na forma do perdão e na forma de uma grande resistência contra a tentação. Eis porque nos sentimos mais leves e muito melhores depois de termos feito uma boa confissão". ( Fr. Dave Schwarz)
            Nem mesmo o Sacramento da Eucaristia está imune a tal princípio subjetivista;
"Quando você estiver orando depois de ter recebido a Comunhão, eu sugiro que você visualize raios luminosos de cura saindo da hóstia consagrada que você acabou de receber e fluindo através de todo o seu ser"...
            Para o fenomenalista, assim como para o Carismático, o objeto não tem verdadeira existência quando separado do sujeito. Essa lógica extrema torna-se então uma questão do relacionamento da consciência consigo própria. Assim não é difícil ver no que a moderna religião pós-conciliar se tornou... de acordo com algumas acusações, a religião do homem adorando-se a si próprio.
            Tendências Gnósticas
            Várias formas de gnosticismo tentaram fazer estrada dentro da Igreja através dos séculos; elas podiam até ser diferentes umas das outras nos detalhes, mas o fator central subjacente entre elas sempre foi a alegada existência de um "conhecimento secreto", ou gnose, o qual faz de seu possuidor o crente verdadeiro, portanto, o único realmente preparado para o Céu. Com os Carismáticos, essa gnose se torna a experiência de Deus através das manifestações interiores e exteriores do "espírito", o qual transforma aqueles que experimentam tais fenômenos em verdadeiros "crentes".
         Ecumenismo
            A filosofia  fenomenalista Carismática  possui interessantes repercussões na área do Ecumenismo. Segundo a RCC, no Concílio Vaticano II, "a Igreja  comprometeu-se  irrevogavelmente em seguir o caminho da aventura ecumênica" (Ut Unum sint 3)...
O fato é que não-católicos tem compartilhado das mesmas experiências dos Carismáticos independente da Igreja supostamente provar a validade de suas seitas heréticas. Essa atitude é fenomenalismo puro e simples: Deus Espírito Santo estaria produzindo o fenômeno "X" entre os Católicos Carismáticos; o fenômeno "X" está presente também na seita protestante "Y"; portanto, a seita protestante "Y" compartilha da mesma fé verdadeira com os Carismáticos Católicos. O fato de que o menos experiente aluno de escola primária poderia facilmente desbancar essa falsa suposição, parece não apresentar nenhum problema para os Carismáticos, uma vez que tal lógica cai naquela categoria que eles definem como "conhecimento racional" ao invés do verdadeiro conhecimento de "coração", o qual eles se gabam de ter como experiência.
            Como o seguinte trecho demonstra, os Carismáticos acham que a caridade mútua baseada na experiência é que é o princípio da Unidade Cristã:
"Enquanto a inteira Igreja, tanto o Clero como leigos, estão às voltas tentando responder a esse mandamento de buscar a Unidade, de um modo único isso já é real para os líderes da RCC, porque tanto as orígens de nossa renovação pentencostal como as ações do próprio Deus na Renovação são ecumênicas. A renovação possui uma dimensão ecumênica, a qual de forma alguma é acidental, e sim que faz parte de sua natureza. Portanto a renovação Carismática como é freqüentemente descrita, é uma graça ecumênica para a Igreja"
Três fatos da história moderna podem facilitar nossa compreensão. No final do último século, enquanto o Papa Leão XIII pedia aos Católicos de todos os lugares para que rezassem por uma renovação do Espírito Santo, muitos protestantes evangélicos também estavam ávidamente buscando uma renovação no espírito. O segundo fato é que a confiança ecumênica do Vaticano II foi o principal componente do "novo Pentencostes", pelo qual a inteira Igreja havia  rezado antes e durante o Concílio. O terceiro fato é que quando a renovação pentencostal começou entre os Católicos lá pelo final da década de 60, a mesma renovação  no Espírito, com carismas, serviço mútuo e amor... simultaneamente estava acontecendo também entre cristãos de outras denominações pelo mundo afora...
Aqui a chave para o sucesso é o genuíno respeito mútuo entre líderes protestantes e Carismáticos católicos.Quando ambos, Carismáticos católicos, evangélicos pentecostais, bem como outros líderes protestantes não denominacionais, aceitarem a validade da fé de seus concorrentes, aí sim, haverá uma boa fundação. Reconhecimento mútuo do fato de que a fé em Jesus Cristo e o batismo faz-nos irmãos e irmãs em Cristo e membros de seu único Corpo é fundamental para construirmos relacionamentos de mútua confiança, respeito e amizade. Existe uma relação direta entre tal fundação de relacionamentos pessoais sólidos e o sucesso de qualquer empreendimento ecumênico."(Kevin Ranaghan- Ecumenism and Catholic Charismatic Renewal Today)
            Todo Católico sabe muito bem que a tão propalada "unidade cristã" significa apenas uma coisa,  o retorno daqueles que se encontram no erro ao seio da única Igreja, fundada por Jesus Cristo e administrada por seu Vigário na Terra, ou seja, o Romano Pontífice. A Unidade da Igreja é baseada na Verdade objetiva, guardada e proclamada pelo Papado, o qual é o princípio de unidade da Igreja. Aqueles que não estão unidos na fé e na comunhão com a Igreja são, pelo menos objetivamente falando, heréticos por negarem a fé e cismáticos por não se submeterem ao Romano Pontífice. A ininterrupta Tradição da Igreja, objetivamente dizendo, exclui-os da Salvação enquanto persistir sua desunião:
"Portanto, nós declaramos, nós definimos que é absolutamente necessário para a Salvação, que toda a criatura humana esteja sujeita ao Romano Pontífice"(Papa Bonifácio VIII- Unam Sanctam).
Ao contrário do que dizem os Carismáticos, o Papa Pio XII declara em sua magnífica Encíclica Mystici Corporis:
"Cristo", diz o Apóstolo, "é a Cabeça do Corpo da Igreja". Se a Igreja é o corpo, esse deve ser de uma inquebrantável unidade, de acordo com as palavras de Paulo: "Apesar de sermos muitos, somos um só corpo em Cristo". Mas não é apenas necessário que o Corpo da Igreja seja uma unidade inquebrável, mas também que deve ser algo definido e perceptível como bem define nosso predecessor de feliz memória, Leão XIII em sua Encíclica Sagitis Cognitum: "A Igreja é visível porque ela é um corpo.Portanto erra em matéria de verdade divina, aqueles que imaginam a Igreja como invisível, intangível, algo meramente peneumológico (espiritual), como eles costumam dizer, "presente através de muitas comunidades cristãs, que embora diferenciando-se umas das outras por sua profissão de fé, estão unidas por um elo invisível".
            No que diz respeito à pertença à única Igreja de Cristo, o mesmo Santo Pontífice ainda declara: 
"Verdadeiramente, apenas são contados como membros da Igreja, aqueles que tendo sido batizadosprofessam a verdadeira Fé e que não tiveram o infortúnio de se separarem da unidade do Corpo, ou que foram legitimamente excluídos pela autoridade devido a graves faltas cometidas. Pois em um só Espírito, diz o Apóstolo, "foram todos batizados em um só corpo, sejam judeus ou gentios,escravos ou livres. Assim portanto, na verdadeira comunidade Cristã existe apenas um Corpo, um só Espírito,um só Batismo, e uma única fé. E assim, se uma pessoa se recusa a ouvir a Igreja, que ele seja considerado- como bem diz o Senhor-  como um inimigo ou publicano. Segue-se então que  aqueles que se separaram por fé ou governo, não podem estar vivendo na unidade de tal Corpo ou vivendo a vida de seu Divino Espírito".
            Portanto, partindo de um ponto de vista genuinamente Católico, devemos admitir que a existência de verdadeiros carismas entre os Protestantes é algo mais do que contraditório. Se esses fenômenos estivessem ocorrendo de fato, eles se dariam de forma claramente excepcional e não em caráter normativo. Por outro lado, eles teriam uma única finalidade, ou seja, a conversão dos Protestantes para o Catolicismo. Por outro lado, mesmo se verdadeiros carismas estivessem ocorrendo entre Católicos e Protestantes, a idéia de que um fenômeno tão suspeito como o de agora, possa servir de base para uma falsa e "irenistica" união entre duas crenças completamente opostas, é algo claramente não-católico e demonstra uma certa perda da Fé por parte daqueles que pensam dessa maneira.
         Protestantismo.
            Dado as orígens ecumênicas e protestantes da RCC, não é de se admirar que o pensamento dos Carismáticos seja impregnado de concepções nitidamente protestantes. Uma das marcas registradas do Protestantismo é aquele princípio da sola scriptura, ou seja, apenas a Bíblia, ou melhor, apenas a interpretação pessoal das Escrituras baseada na "inspiração do Espírito Santo" é que tem valor. Devido a essa raiz tipicamente protestante, encontramos também entre os Carismáticos o menosprezo ou a rejeição da Tradição como fonte Divina da Revelação. Como bem demonstra o seguinte trecho, os carismáticos também compartilham dessa perigosa concepção:
... O fundamento da Renovação Carismática Católica é a Sagrada Escritura. Leituras de curtas passagens das Escrituras fazem parte da dinâmica dos grupos de oração... por minha própria  experiência,  essa sede pelas Sagradas Escrituras é uma das grandes bênçãos desses tempos... E mais, para mim é mais do que evidente de que aqueles que desejam ter um relacionamento pessoal com Deus deveriam pelo menos se familiarizarem mais com esse Livro... Que o Espírito Santo, inspirador das Escrituras, inspire-nos a termos amor por sua palavra. Que nos dirija naquelas passagens as quais são mais eficazes em nossas vidas e a um maior conhecimento do Pai e do Filho. ( Andy O'Neill- The Power of Charismatic Healing)
            Através dos séculos os santos concordaram que relacionar-se com Deus mais intimamente em oração permite a Deus também relacionar-se conosco intimamente compartilhando de sua divina sabedoria conosco... Na medida que nos comunicamos com Deus, Ele se comunica conosco. Mas o oposto também é verdade: se nós abrimos nossos corações para Sua Santa Palavra, uma extraordinária experiência de fé, esperança e amor jorrará em nossas almas... na medida em que alguém se torna cada vez mais ciente de que  a "letra mata, mas o Espírito vivifica"( II Cor.3:6), eventualmente o Espírito o levará ao coração daquela passagem. Mesmo que ele não saiba a correta e exata interpretação da passagem, ele pode depender apenas do Espírito para adquirir tanto o  significado  como a sua correta aplicação... Talvez nosso maior problema reside no fato de que  lemos muito a Palavra de Deus, mas a experimentamos muito pouco. Existe uma grande diferença entre memorizar passagens e pensar biblicamente com os "pensamentos de Deus"( I Cor. 2;11). Existe uma grande diferença entre ter as Sagradas Escrituras alojadas como um livro empoeirado dentro de nossas cabeças e tê-las como uma fonte viva jorrando inspiração em nossos corações.( Hampsch)
            Naturalmente que todo Católico sabe muito bem que a Interpretação das Sagradas Escrituras, como bem descreve a própria Escritura (II Pedro 1: 20) foi confiada exclusivamente à Igreja- a qual é verdadeiramente guiada pelo Espírito Santo- e não `a cada indivíduo em particular. Aliás, o seguinte trecho extraído dos decretos do Concílio de Trento explica esse princípio claramente, bem como a punição prometida àqueles que compartilham dessa crença e prática herética:
Portanto, de modo a refrear pessoas espertas e imprudentes, o Sínodo decreta que ninguém que confia em seu próprio julgamento em matérias de fé ou moral, os quais são pertinentes à edificação da Doutrina Cristã, e que ninguém que distorce as Sagradas Escrituras de acordo com suas próprias opiniões, se atreva a interpretar as Sagradas Escrituras em sentido contrário àquele que já foi estabelecido pela Santa Madre Igreja, cujo dever é julgar tudo que se refere ao verdadeiro sentido e interpretação das Sagradas Escrituras, ou mesmo contrário ao unânime consenso dos Santos Padres, mesmo que tais interpretações nunca tenham sido feitas com a pretensão de serem divulgadas. Que aqueles que se ousem se opor a essa declaração sejam punidos com as penalidades prescritas pela lei.(Denziger -786)
            Esse ensinamento foi reafirmado pela Profissão de Fé do Concílio de Trento e pela Constituição Dogmática do I Concílio Vaticano.
         Antiquarianismo ou Arqueologismo.
            Uma das tendências mais comuns entre os liberais é fingirem um certo desejo pelo retorno das práticas da Igreja Primitiva. Lutero, Huss e um número incontável de outros heréticos usaram o mesmo estratagema para mascarar suas inovações. Todo Católico sabe muito bem que a Fé da Igreja Primitiva era inteiramente ortodoxa e que as formas e práticas litúrgicas da Igreja seguiram um genuíno desenvolvimento ( não evolução!)  até chegar ao ponto em que as formas externas do culto Católico tornaram-se mais apropriadas para expressar sua crença interna. Assim esses supostos "acréscimos" feitos na Sagrada Liturgia, antes do Concílio vaticano II, podemos dizer que não foram realmente "acréscimos" e sim legítimos desenvolvimentos orgânicos da Liturgia, os quais proporcionaram uma maior solenidade externa ao culto Divino.
            O Papa Pio XII, já durante seu Pontificado, teve que lidar com esse erro dos Modernistas
"O desejo de restaurar tudo indiscriminadamente à sua antiga condição, não é nem sábio e nem digno de louvor. Seria errado por exemplo, querer que o altar seja restaurado à sua antiga forma de mesa, ou querer eliminar a cor preta dos paramentos, ou ter estátuas e pinturas excluídos de nossas Igrejas, ou requerer que os crucifixos não tragam mais os sinais dos sofrimentos do Divino Redentor". (MediatorDei).
            Analogicamente, para aqueles que argumentam que a presença dos carismas na Igreja Primitiva prova sua necessidade e utilidade para os dias de hoje, os Católicos podem responder que uma coisa não segue necessariamente a outra. Os carismas serviram para um propósito específico num tempo também específico - ou seja dar um impulso à expansão mundial da Igreja recém-nascida. Como diz o Papa Pio XII:
A Igreja a qual Ele fundou com o Seu próprio Sangue, Ele fortaleceu no Dia de Pentecostes por um poder especial descido dos Céus. Depois de ter solenemente instalado no mais exaltado ofício o Seu Vigário, Ele subiu aos Céus e sentado agora à direita do Pai, Ele desejou fazer conhecida a Sua Esposa através da descida visível do Espírito Santo, com o som de um vento impetuoso e línguas de fogo. Para que assim como, quando Ele próprio começou a pregar fazendo conhecido o Eterno Pai, através do evento do Espírito Santo descendo sobre Ele em forma de pomba, do mesmo modo, quando os Apóstolos estavam prestes a começarem seu ministério de pregadores, Cristo Nosso Senhor enviou o Espírito Santo dos Céus, para tocá-los com línguas de fogo e apontá-los com o dedo de Deus, para a missão sobrenatural e para o ofício da Igreja. ( Mystici Corporis)
            Como já foi dito antes, o fim dessas manifestações externas do Espírito Santo correspondem aproximadamente à conquista pela Igreja de uma universalidade moral. O desejo de retornar à práticas as quais eram adequadas às necessidades  da Igreja Primitiva e que nunca foram entendidas como ordinárias é antiquarianismo puro e simples. Como já foi mencionado anteriormente, descartar a Tradição da Igreja, como no caso da declaração de Santo Agostinho pertinente aos carismas, é uma atitude claramente protestante, na medida em que a justificativa para esse menosprezo da Tradição é baseado na leitura "inspirada" da Bíblia feita por cada Carismático individualmente.
 
Falsas concepções a respeito da Igreja.
         Sua Missão. 
            Os Carismáticos alegam que a missão da Igreja é o louvor. "O Louvor é a raison d'être da Igreja" (Andy O'Neill).
            Embora seja o louvor, inegavelmente e certamente algo que o homem por justiça deve ao seu Criador, isso dificilmente pode ser considerado a "razão" sine qua non, pela qual Jesus cristo instituiu sua Igreja. Pelo contrário, Nosso Senhor não fundou a Igreja de forma alguma para ter o seu próprio "fã-clube". Ele a fundou de forma a perpetuar sua obra de Redenção por todos os séculos dos séculos. Assim explicam os Padres do I Concílio Vaticano em sua Primeira Constituição Dogmática ( Pastor Aeternus):
"O Eterno Pastor e Bispo de nossas almas ( I Pedro 2:25) de modo a tornar perene a obra salvífica da redenção, quis edificar a Santa Igreja de  modo em que na casa do Deus Vivo, todos os fiéis pudessem ser abrigados e unidos pelo elo de uma única Fé e caridade."
            Esse ensinamento  do Magistério da Igreja claramente contradiz à falsa noção dos Carismáticos a respeito da missão da Igreja e detona a base ecumênica do inteiro movimento.
Embora, inegavelmente, o propósito último de cada ação externa da S.S Trindade seja o crescimento da glória de Deus, o propósito imediato da fundação da Igreja foi aplicar os frutos da redenção a todos os homens. "A santificação do homem através da comunicação da Verdade, dos Mandamentos e das graças de Cristo é o propósito imediato da Igreja".( Fundamentals of Catholic Dogma- Lwdwig Ott).
            Objetivamente falando, a glória de Deus se mostra ainda mais resplandescente por causa desse ato; subjetivamente falando, o homem deseja louvá-lo ainda mais ardentemente como consequência. Essa confusão entre algo subjetivo e algo objetivo é uma das marcas registradas da RCC e a raiz de toda a confusão é devido ao fenomenalismo.
            Sua Indefectibilidade
            A alegação dos Carismáticos de que apesar do desaparecimento dos carismas por quase 2000 anos, eles são essenciais à missão da Igreja, é um assalto direto àIndefectibilidade da Igreja, um dos seus atributos essenciais. Essa indefectibilidade é o corolário da promessa de Nosso Senhor a São Pedro ( Mt 16:18). "A Igreja instituída por Jesus Cristo foi feita para durar para sempre, pelo menos em seus atributos essenciais"( Abade A. Boulenger- La Doctrine Catholique)
            Essa doutrina garante apenas que a Igreja permanecerá para sempre, mas isso não  previne da destruição de grandes porções da Igreja. Mais ainda, isso deve ser considerado como algo não-essencial para o cumprimento de sua divina missão.
            A perpetuidade ( indefectibilidade) da Igreja resulta do fato dela ser uma religião definitiva a qual não pode renunciar à sua posição em favor de outra. De modo a cumprir sua divina missão (o que nos é garantido pela Revelação) é necessário que ela sobreviva em todos os elementos essenciais para o cumprimento dessa missão.
            Portanto, todo o aspecto da Igreja que não é constante e universal ( pelo menos de acordo com sua natureza) não é essencial para o cumprimento de sua missão. Os carismas são inequivocadamente, um desses aspectos, e portanto são não-essenciais para o cumprimento da missão da Igreja e nem protegidos pela sua indefectibilidade. De fato, a afirmação dos Carismáticos sobre a natureza essencial dos carismas, não deixa de ser um duro golpe no verdadeiro princípio da indefectibilidade, pois se um elemento essencial para a perpetuação da Igreja desapareceu por quase 2000 anos, isso significa apenas que a promessa de Nosso Senhor foi uma mentira.
            Seu Magistério
            Nosso Senhor Jesus  Cristo fundou uma Igreja visível, a qual é Una, Santa, Católica e Apostólica. Ele disse aos Seus Apóstolos, os primeiros Bispos: "Ide pelo mundo todo e ensinai a todas as nações"( Mt 28.19), e  " Quem vos ouve, a mim ouve"( Lc 10.16). O Magistério, ou ofício de ensinar da Igreja, é infalível quando:
            a) O Papa pronuncia-se ex-cathedra ou que um Concílio Geral unido ao Papa faz uma declaração definitiva concernente à fé ou moral (de fide).
            b) ou Pronunciamentos ordinários do Papa, Concílio ou Bispo correspondente a algum ensinamento infalível anteriormente estabelecido.
            A questão do Magistério é central para compreendermos a inteira crise na Igreja de hoje, porque os liberais acham que podem tranquilamente varrer 20 séculos de ensinamento Católico  substiundo-os por aquilo que os homens contemporâneos da Igreja derem na veneta. A esse critério poderíamos acrescentar a "inspiração pessoal do Espírito Santo".
            Frequentemente temos ouvido essa conversa sobre a diferença entre ensino "pré-conciliar"e ensino "pós-conciliar" no tocante à teologia, moral...etc.  O que deve ficar bem claro é que  um dado Concílio ou Papa não pode - com garantia divina- erradicar unilateralmente um ensinamento do Magistério da Igreja, o qual foi previamente definido como infalível. Novamente aqui não é uma questão do que alguém "sente" que o Catolicismo deve ser, muito pelo contrário, o ensinamento Católico infalível é uma questão de fato histórico, completamente independente das "inspirações individuais" de qualquer indivíduo, seja ele, papa, cardeal, bispo, padre ou leigo. Como declara o Papa Pio XII:
Pois, juntamente com essas sagradas fontes ( Escrituras e Tradição), Deus deu o Magistério vivo à sua Igreja, para iluminar e esclarecer aquilo que está contido no Depósito da Fé de forma obscura ou implícita. De fato, o Divino Redentor confiou esse Depósito não a cristãos individualmente, nem a teólogos para ser interpretado de forma autêntica, mas apenas ao Magistério da Igreja. (Papa Pio XII- Humani Generis) 
            A Raiz do Problema
            Ensinamento Católico sobre a Graça
            Talvez seja na área do conceito sobre a graça que os Carismáticos façam a mais nítida ruptura com a Doutrina Católica e revelam a raiz chave de seu inteiro sistema de erros. Como já foi dito anteriormente, os Carismáticos defendem a necessidade de um fenômeno sensível que acompanhe e dê significado à recepção da graça ( ou pelo menos que a "libere") na alma. Em outras palavras, "Cristãos em cuja alma Deus realmente atua, sentem sempre a sua ação". Isso é claramente falso.
            A graça Santificante, aquela que "santifica a alma" confere beleza sobrenatural à mesma, faz o homem justo entrar em relacionamento de amizade com Deus, torna-o um Templo do Espírito Santo, um Filho de Deus e que dá-lhe conseqüentemente a herança dos Céus, é inteiramente insensível à alma. Naturalmente que isso não descarta a possibilidade de que Deus dê uma divina revelação a um indivíduo sobre seu estado de graça, mas tal revelação certamente cairia no campo do incomum e não como norma geral, ao contrário do que afirmam os Carismáticos.
             Como declara o Concílio de Trento:
"Cada homem ao levar em consideração a si próprio e a sua própria fraqueza e indisposição, pode experimentar medo e apreensão sobre sua própria graça, uma vez que ninguém pode saber com certeza de fé, a qual não está sujeita a erro, que ele obteve de fato uma graça de Deus".(Denziger 802).
            Naturalmente que Deus pode conceder graças verdadeiramente sensíveis( embora nem todas as graças sejam necessariamente sensíveis)  a quem quer que seja, mas, mesmo entre as graças verdadeiras, sensibilidade não é uma condição sine qua non. Uma vez que muitas graças verdadeiras são sensíveis e os Carismáticos insistem tanto sobre o caráter sensível da graça, o resultado prático é que eles acabam confundindo graça santificante com graça verdadeira e no final acabam negando a primeira.
            O resultado prático de se negar a graça santificante, significa de fato uma negação da Doutrina Católica acerca da justificação (como foi infalivelmente decretado nos canons do Concílio de Trento) e, consequentemente, a Doutrina Católica concernente às operações externas da S.S Trindade, as quais serão discutidas mais a seguir. A seriedade dessa matéria não deveria ser menosprezada por ninguém. Sempre foi dito que semelhantes erros no princípio acabam levando a erros maiores na conclusão. Portanto, a insistência dos Carismáticos sobre o caráter sensível das graças é a raiz chave de seu inteiro sistema de erros.
            Ensinamento Católico sobre os Carismas.
            É inegável que às vezes Deus concede graças verdadeiramente sensíveis, até mesmo fenômenos extraordinários a certas pessoas. Os verdadeiros carismas presentes na Igreja Primitiva são um claro exemplo desses fenômenos extraordinários. Uma das maiores gafes dos Carismáticos certamente é querer transformar algo extraordinário em ordinário e até necessário para todos.
            As graças as quais Deus concede ao homem se  dividem em várias categorias. Uma dessas categorias é a chamada gratia gratis data graça concedida livremente) e a outra é a gratia gratum faciens graça concedida para agradar). A primeira, frequentemente chamada "graça gratuita", é usada para significar aquelas graças que são conferidas a algumas pessoas em particular para a salvação de outras. A essa classe pertencem aqueles extraordinários dons de graça, como os verdadeiros carismas ( profecia, milagres, línguas... etc conforme I Cor. 12.8), o poder sacerdotal de Consagração  e o poder hierárquico de jurisdição. A possessão desses dons é algo independente da constituição moral do seu possuidor.
            Gratia gratum faciens é usada para descrever a graça de santificação pessoal para todos os homens. Ambas as graças; santificannte e graça verdadeira, as quais preparam-nos para a justificação caem nessa categoria. Essas graças são necessárias para todos, o que já não ocorre com as graças gratuítas. São Tamás de Aquino fala muito bem desta distinção, descrevendo ambas as categorias de graça em sua Summa Teológica, em duas seções separadas do II Capítulo do "Tratado Sobre a Graça" e o "Tratado Sobre Atos Pertinentes Especialmente a Certos Homens".  Os carismas são discutidos mais no final.
            É interressante notar que São Tomás de Aquino nunca se refere aos carismas como sendo um fenômeno contemporâneo. Ele fala sobre eles apenas com referência aos tempos Apostólicos. Para uma explicação mais profunda sobre esses fenômenos, aconselho que se leia seus escritos.
            Basicamente, os verdadeiros carismas foram dons que capacitaram a Igreja primitiva a se espalhar rapidamente até os confins do mundo até então conhecido e tornar-se bem estabelecida antes da morte dos Apóstolos. Como já foi dito antes e como bem elucidou São Paulo na sua II Epístola aos Coríntios, o propósito dos dons era a edificação da Igreja  e não a santificação daqueles a quem eles eram conferidos.
            O dom das línguas foi dado para permitir que o Evangelho fosse pregado a todos os ouvintes independente de seus idiomas. Profecia, curas, milagres.. etc. foram dados para provar a veracidade das pregações da Igreja e para promover conversões. Com a conquista de uma Universalidade Moral pela Igreja , a necessidade de tais fenômenos cessou por várias razões. Primeiramente, por causa da presença de povos de tudo quanto é nacionalidade dentro do Corpo da Igreja e em segundo lugar, por causa do comprovado estabelecimento da Igreja como Verdadeira Religião em um curto espaço de tempo.
            O mesmo argumento pode ser feito hoje contra a presença contemporânea dos carismas. Uma vez que a Igreja é agora tanto moralmente quanto fisicamente Universal, abrigando pessoas - mesmo do Clero - de tudo quanto é nação e língua, que necessidade haveria da glossolalia para a evangelização? Uma vez que a Igreja já possui quase dois mil anos de existência comprovada como Verdadeira Religião, que necessidade ela teria dos carismas para provar sua Doutrina? Como declara Santo Agostinho:
Uma vez que mesmo agora quando o Espírito Santo é recebido, ninguém fala nas línguas de todas as nações, é porque a própria Igreja já fala na língua de todas as nações: Já que quem quer que seja que não está dentro da Igreja, não recebeu ainda o Espírito Santo" (Santo Agostinho, Tratado de XXXII sobre João).
            Por outro lado São Tomás de Aquino admite a possibilidade de grossa caricatura diabólica dos verdadeiros carismas em questões, sobre as quais o leitor é livre para examinar com atenção
            II-IIæ, Q.172,A.5: Se alguma profecia pode vir do demônio (RESPOSTA: SIM)
            II-IIæ,Q,172,A.6: Se as previsões dos profetas dos demônios podem ser verdadeiras (RESPOSTA: SIM).
            II-IIæ, Q.178,A.2: Se o Malígno pode operar milagres (RESPOSTA: SIM).]
            É bem sabido que o Diabo e seus demônios podem produzir prodígios que a princípio parecem milagres para os mais desavisados, como na história do Mago Simão e sua "milagrosa levitação" desbancada por São Paulo. Portanto é extremamente perigoso ir aceitando de cara, qualquer fenômeno extraordinário como sendo de orígem divina. O grande místico e doutor da Igreja, São João da Cruz, tão frequentemente citado e tão mal compreendido pelos "gurus" espirituais modernos, tinha o seguinte a dizer, concernente à supostas "revelações pessoais" vindas de Deus e que foram experimentadas por alguns de seus contemporâneos:
"E eu temo muitíssimo pelo que está acontecendo nesses nossos tempos: se qualquer alma, seja lá qual for, depois de um pouquinho de meditação, tiver em suas recordações uma dessas locuções, e imediatamente "batizá-las"como vindas de Deus e com tal suposição disser: "Deus me disse", "Deus me respondeu". Ainda que não seja exatamente assim, mas, como já dissemos, essas pessoas são frequentemente os autores de suas próprias locuções".( São João da Cruz- A Subida do Monte Carmelo).
"Através do desejo de aceitá-las, eles abrem as portas para o demônio. O demônio pode então enganá-los usando outras comunicações espertamente fingidas e disfarçadas como genuínas. Nas palavras do Apóstolo, ele pode transformar-se em "anjo de luz"(II Cor. 11:14)... Independentemente da causa dessas apreensões, é sempre bom para um homem rejeitá-las de olhos fechados. Se ele fracassa em assim fazer, ele acabará por dar espaço para aquelas que tem orígem diabólica e dará poder ao demônio para que se aposse de suas próprias comunicações. E não é só isso, as representações diabólicas se multiplicarão enquanto aquelas que vem de Deus gradualmente cessarão, de forma que dali a pouco todas virão do demônio e nenhuma delas de Deus. Isso tem ocorrido com muitos incautos e não-instruídos". ( S. João da Cruz)
            De fato, Nosso Senhor Jesus Cristo adverte a Igreja dos perigos de aceitar de cara supostos milagres: Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão milagres e prodígios a ponto de seduzir se isto fosse possível até mesmo os escolhidos. (Mt24,24)
            Mais estarrecedor ainda é sua advertência: "Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!" (Mt 7,21-23).
         Ensinamento Católico sobre a Santíssima Trindade
            Naturalmente que uma exposição dogmática mais profunda está bem além do objetivo desse artigo, mas de modo a compreender a gravidade dos erros dos Carismáticos é essencial entender as assim chamadas "missões externas".
            Uma missão, ou envio, pressupõe que haja um remitente, um envio e um destino para o qual algo é enviado. Com relação ao remitente e ao envio, os teólogos falam de acordo com as "apropriações" de Deus-Pai como sendo Aquele que envia; Deus-Filho como Aquele que é enviado e ao mesmo tempo que envia, e o Espírito Santo como Aquele que é enviado, mas que não envia. A Doutrina Católica sobre a Trindade ensina que todas as operações externas   são comuns às três Pessoas Divinas. Com referência ao destino para o qual uma das divinas Pessoas é enviada, é bom que se fique claro que, embora Deus esteja presente em todas as partes do Universo, Seu modo de presença em qualquer dado lugar muda quando uma das Divinas Pessoas é enviada.
            Existem dois tipos de  missão externa da S.S Trindade: a visível e a invisível. A missão invisível é adequadamente, insensível à pessoa para quem a divina Pessoa é enviada, ao passo que a missão visível é também sensível. A missão insensível segue-se à conferência da graça santificante e tem como seu objetivo fazer com que Deus habite na alma do justo. Essa habitação na alma geralmente é atribuída ao Espírito Santo, mas juntamente com o Espírito Santo, também o Pai e o Filho  habitam na alma do justo.
            A missão visível do Espírito Santo compreende fenômenos sensíveis como quando o Espírito Santo apareceu sob a forma de pomba no Batismo de Nosso Senhor, ou Sua descida em forma de línguas de fogo sobre os Apóstolos no Pentecostes, bem como os verdadeiros carismas ocorridos na Era Apostólica da Igreja. "Mas por sua verdadeira natureza, a missão visível é transitória". (S. Tomás de Aquino- Summa Teológica) A missão invisível ocorre com a conferência da graça santificante, a qual acontece normalmente com a digna recepção dos sacramentos.
"Mas a obra principal do Espírito Santo é a santificação das almas através da graça... E mais especialmente através dos Sacramentos, e de forma ainda mais notável através do Sacramento da Confirmação que o Espírito Santo comunica Suas Graças e Seus Dons."( Abade A. Boulenger)
            Portanto, toda essa insistência sobre a sensibilidade da graça, praticamente negando a graça santificante, faz com que se acabe por negar também a missão invisível do Espírito Santo e rebaixar os Sacramentos de seu alto posto, reduzindo-os apenas a canais ordinários por onde passa a graça  e a meros ritos eclesiásticos cujo papel é "complementar" o sensível "batismo no Espírito" durante o processo de "Iniciação Cristã".
         Ensinamento católico sobre a Graça Santificante e o Livre Arbítrio
            A Doutrina Católica sempre ensinou que a graça santificante, a qual os Carismáticos praticamente negam, é a certeza da participação na vida Divina. Ao pensarmos sobre esse fato, devemos evitar dois extremos. O primeiro é aquele típico erro racionalista de pensar a participação na vida Divina como uma mera união moral com Deus, realizada através da imitação humana das Perfeições Divinas. O outro extremo é a idéia quietista ou panteística de que a alma é aniquilada e transformada na Divindade. Esse não deixa de ser o fim lógico das idéias Carismáticas.
            Os Católicos sabem que a graça aperfeiçoa a natureza sem contudo destruí-la. Deus positivamente modela a alma à Sua Imagem e a assimila à Sua Vida Divina através de um poder que transcende a todos poderes criados da alma, mas sempre utilizando tais poderes criados em livre cooperação com a vontade Divina. Não é portanto nem louvável e nem necessário aniquilar o livre-arbítrio ou vontade, ele deve ser subjugado ou dominado com o auxílio da graça e ordenado de acordo com a vontade Divina.
            Com relação à vontade e a operação do Espírito Santo na alma humana, Papa Pio XII resume da seguinte maneira, a posição Católica:
"Não menos longe da verdade está o perigoso erro daqueles que se empenham em deduzir da nossa misteriosa união com Cristo um certo quietismo. Eles atribuem toda a vida espiritual dos Cristãos, bem como todo o progresso na virtude exclusivamente à ação do Espírito Divino, pondo de lado ou negligenciando aquela colaboração que nos é devida. Ninguém, naturalmente pode negar que  o Santo Espírito de Jesus Cristo é a única fonte de qualquer que seja o poder sobrenatural que entra na Igreja e em seus membros. Pois como bem diz o Salmista"O Senhor dará a graça e a glória". Mas que o homem deve perseverar constantmente em suas boas obras, que ele deve avançar tenazmente em graça e virtude, que ele deve combater e lutar para atingir as alturas da perfeição Cristã e ao mesmo tempo o melhor em seu poder para estimular outros a atingir a mesma meta... nada disto o Espírito Santo efetua a menos que eles contribuam diariamente com o zelo de suas atividades. Como já dizia Santo Ambrósio: "Pois os favores divinos são conferidos não àqueles que dormem, mas àqueles que vigiam". Pois se em nossos corpos  mortais os membros são fortalecidos e crescem atráves de constantes exercícios, muito mais isso pode verdadeiramente ser dito do social Corpo de Jesus Cristo no qual cada membro  retém sua própria liberdade pessoal, responsabilidade e princípios de conduta. Por esse motivo, aquele que disse: "Eu vivo, mas não sou mais eu que vivo, mas Cristo que vive em mim", também não hesitou em assegurar: "Sua graça em mim não foi em vão, mas eu tenho trabalhado mais abundantemente do que todos os outros, mas não eu, a graça de Deus que está em mim."É perfeitamente claro portanto, que nessas falsas doutrinas o mistério que nós estamos considerando não é dirigido ao avanço espiritual dos fiéis mas voltados à sua deplorável ruina." (Papa Pio XII- Mystici Corporis).
Inegável Contradição
            Devido à essas comparações entre as idéias Carismáticas e a Doutrina Católica, deveria ficar claro portanto que, seja lá qual for as disposições individuais de seus seguidores em relação à Igreja e à Fé, a RCC como um todo, de forma alguma pode ser considerado um Movimento Católico, mas sim mais uma seita enganadora do Pai da mentira infiltrada no corpo da Igreja. A maioria dos Carismáticos pode muito bem negar que eles apoiam tais erros concernentes à graça, ao Espírito Santo, às missões externas da S.S Trindade... etc, mas sua própria renúncia à ação do intelecto tornam explícitos seus erros implícitos.
            O pensamento Carismático faz um paralelo muito próximo com aqueles erros os primeiros dias da Igreja e  francamente demonstram uma admiração pelas heresias do Protestantismo. A idéia "evolucionista" que os Carismáticos adotaram a respeito do Magistério da Igreja é uma garantia que eles usam para se protegerem contra qualquer tipo de alegação proveniente dos ensinos anteriores ao Vaticano II. Identicamente aos Protestantes , eles descartam a Tradição, deixando-se levar quase inteiramente pela "defesa Bíblica"  dos seus assim-chamados "carismas", depois de terem se submetido a um rito não-Católico, quase-sacramental, dirigido e inventado por heréticos.
            O fato das autoridades eclesiásticas não terem a coragem de condenar a RCC, entrará para a história da Igreja no século XX, como sendo um fracasso semelhante àquele do Vaticano II em não condenar o Comunismo. De fato tudo isso nos leva a conjecturar se o "espírito" que os Carismáticos alegam seguir, não seria o mesmo "espírito do Vaticano II", ou seja, o espírito do mundo...
            A Resposta Católica: Apologética.
            Uma vez que tanto as práticas como a crença dos Carismáticos são inegavelmente baseadas em heresia, podemos legitimamente duvidar da ortodoxia daqueles que professam filiação ao movimento. Naturalmente que somente Deus pode julgar almas, mas até  por um dever de caridade não podemos considerar como ortodoxas aquelas ações e palavras que beiram à heresia. Ao fazermos isso, estaríamos sendo injustos, bem como sustentando uma mentira semelhante àqueles que mantém uma atitude de indiferentismo religioso.
            "Pelos frutos os conhecereis", disse Nosso Senhor aos Apóstolos ( Mt 7:20). Pelos frutos venenosos do movimento Carismático, qualquer um pode comprovar sua inerente incompatibilidade com o Catolicismo e o grave perigo que ele apresenta para a Fé Católica genuína. Diante da ignorância de muitos e a cumplicidade de outros tantos membros da Hierarquia Católica, alguém deve ter coragem de dizer a verdade sobre esse movimento e o perigo que ele representa para um incontável número de almas.
            Obviamente, a menos que haja uma milagrosa mudança nos atuais ventos eclesiásticos, o dever de combater os erros Carismáticos deve permanecer ao nível do clero ortodoxo e dos leigos.   A defesa baseada na Apologética deve se desenvolver em três níveis:
·                     Um Católico deve estudar para conhecer melhor sua Fé, especialmente em áreas atacadas pelos Carismáticos e desenvolver uma piedade litúrgica forte e objetiva baseada em sua Fé e não na experiência de consolações.
·                     Um Católico deve educadamente recusar-se a aceitar qualquer tipo de discussão a respeito dos assim-chamados "carismas" presentes na Igreja de hoje como sendo algo ortodoxo. Verdadeiras discussões podem ser levadas a frente apenas baseadas em princípios igualmente compartilhados e enganos ou prevaricação em pontos decisivos não levarão a nenhum avanço genuino para a verdade. O fracasso do tão propalado Diálogo entre Católicos e Protestantes demonstra isso bem claramente.
·                     Um Católico deve saber e deve ser capaz de apresentar em simples termos, o verdadeiro ensinamento da Igreja a respeito dos Sacramentos, graça, livre-arbírtrio, a natureza e a missão da Igreja e os carismas. Aqueles Carismáticos que se consideram ortodoxos e realmente estão em busca da verdade, saberão ouvir. Quanto àqueles que se recusam a ouvir, as Palavras de Santo Agostinho mostram-se bem apropriadas a esse ponto:
Porque a verdade atrai o ódio? porque o Seu Servo é tratado como inimigo por aqueles a quem Ele prega a verdade? Simplesmente porque a verdade é amada de tal modo que aqueles que amam outras coisas, querem que essas coisas sejam a verdade e, precisamente porque eles não desejam ser enganados são reticentes em se deixarem convencer que estão enganados  (Santo Agostinho - Confissões).
         SUMÁRIO:
            O Movimento Carismático Católico é uma árvore de frutos venenosos, plantada pelo demônio entre os protestantes e transplantada para dentro da Igreja pelos ventos do Concílio Vaticano II. O delírio das autoridades Eclesiásticas contemporâneas tem regado e alimentado essa árvore e a falta de uma adequada formação doutrinária Católica entre Sacerdotes e leigos, tem aplainado e fertilizado o solo na qual ela cresce vigorosamente. Muitas pessoas já comeram de seus frutos mortais no princípio, e agora a juventude vulnerável, tão sedenta por um profundo conhecimento de Deus e pelo senso do sobrenatural que lhes foi negado pela Igreja Conciliar corre um grande risco. Uma geração de filhos da Igreja está crescendo convencida de que o pensamento Carismático não apenas é perfeitamente normal, como até superior ao tradicional pensamento Católico.
            Esses frutos são verdadeiramente uma semente de destruição, e certamente um dos mais perigosos frutos oferecidos ao homem desde aquele primeiro fruto oferecido a Eva pela mesma serpente. Que possa a Nova Eva, a Bem-Aventurada Vírgem Maria  a quem foi dado o poder de esmagar a cabeça da serpente, interceder pela a Igreja e libertá-la do perigo em que ela se encontra por causa de novidades como a RCC.
Autor:Scott Gardner, do Seminário São Tomás de Aquino, Winona, Minnesota-EUA- Publicado pela THE ANGELUS PRESS- Março de 1998.