sexta-feira, 23 de março de 2012

Caracteres das dores de Maria


Os caracteres distintivos das dores da santíssima Virgem têm uma relação estreita com as fontes de que tiveram a sua origem. Assinalemos alguns deles. O Seu estado far-nos-á compreender mais o amor que Maria nos testemunha pelas Suas dores e excitar-nos-á a corresponder-Lhe por um amor recíproco mais extenso e mais generoso.

Estes caracteres são em número de quatro.

1- O primeiro destes caracteres particulares das dores de Maria foi que eles duraram toda a Sua vida. A dor que a nós se apega, algumas vezes deixa-nos sentir menos fortemente o seu aguilhão.

A desgraça que persegue um homem no decorrer de toda a sua vida parece, em certas ocasiões, fatigar-se de o perseguir, e muda então de direção, como se renunciasse à sua presa, ou como se quisesse conceder-lhe algum descanso. Mas "para Maria tal não se deu, diz o Pe. Faber, a dor era-Lhe como inerente".

"Quando Deus quer consolar uma alma, Ele a inebria, disse Mons. Gay, mas, quando Ele quer desolar uma delas, Ele a tritura".

"Ele me estabeleceu em uma aflição tão profunda, que permanece o dia inteiro", dizem os livros santos.

De que se trata?... Da sexta-feira santa, em que morreu o Salvador, depois de haver passado pelo crisol de Sua Paixão. Mas este dia começava desde a véspera e, para Maria, ao menos, Ele tinha um dia posterior. A véspera era o Getsêmani; o dia seguinte era o santo sepulcro, ou , para melhor dizermos, esta véspera era a vida terrestre e humilhada de Jesus; e este dia seguinte eram todos os anos que Maria ainda devia passar na terra sem Ele.

O Calvário era um círculo em que tudo se concentrou: o passado, o futuro, o céu, a terra e o próprio inferno com o seu ódio, a terra com os seus crimes, o céu com os seus esplendores; mas o ponto central destes raios tão divergentes era o coração triturado de Jesus e o coração desolado de Sua Mãe.

2- Mas as dores da Virgem não eram somente de todos os instantes de Sua vida; elas também cresciam continuamente. Mais familiar se Lhe tornava a visão dos sofrimentos, mais Ela sentia o seu doloroso amargor. Quando os primeiros ventos da tempestade começaram a soprar sobre o Seu coração, Ela apertou contra ele o Seu Jesus. Ele Lhe parecia mais amável que nunca. Deste modo decorreram os doze primeiros anos. Depois vieram os outros dezoito anos, em que cada palavra, cada olhar, cada movimento de Jesus estavam repletos de mistérios divinos.

Finalmente, chegaram os três anos do ministério público do Salvador e as Suas palavras, as Suas obras, os Seus milagres pareceram carregar o mundo de mais belezas sobrenaturais do que Ele podia suportar. E então, ó dor, os homens se precipitaram com furor, para extinguir esta luz que os feria com o seu brilho e fulgor.

A medida que crescia assim a beleza de Jesus, crescia igualmente o amor de Maria, e com o Seu amor crescia a Sua agonia. Ah! é que a presença de Jesus se tornara para Ela um hábito do qual não podia se afastar sem deixar de viver. E é assim que os Seus sofrimentos aumentaram mais depressa do que crescem as plantas na primavera; e eles aumentariam com tanto maior rapidez, quanto mais se aproxima o termo fatal.

3- O terceiro caráter das dores de Maria é que Ela suportou tudo voluntariamente por amor. Ó Deus, mil vezes misericordioso e clemente, tereis, porventura, depositado esta coroa, este fardo, esta montanha , este mundo de aflições sobre a cabeça de Maria, a Vossa imaculada e a privilegiada do Vosso Coração, se Ela mesma, vendo Jesus carregado por Vós de iniquidades, não Vos tivesse pedido instantemente que A deixásseis participar deste cargo?...

Quando a dor atinge aquilo que amamos, sobretudo aquilo que amamos infinitamente mais do que a nós mesmos, quando Ela não só a atinge, mas o encerra, o esmaga, o penetra, o inunda, o desola, e acaba por matá-lo, proibir então ao amor de sofrer (supondo-se que isto fosse possível), seria impeli-lo a um estado tão violento, e infligir-lhe um suplício tão grande que os sofrimentos mais atrozes, recebidos do objeto amado, ao lado deles, pareceriam um refrigério e uma libertação.

Sim, Maria devia sofrer! Seu amor a Deus e o amor que Deus Lhe tem o exigiam.

Não poderíamos conceber uma mãe sem lágrimas ao lado de um filho ensangüentado, e nem para Deus e nem para nós seria admissível tal suposição.

Qualquer coisa teria faltado eternamente à beleza moral de Maria, se Jesus a tivesse subtraído a esta imolação, pela qual Ele resgata o mundo. Parece que, amando-A por tantos títulos, Ele não A teria amado até ao grau supremo do amor, pois que Lhe teria recusado dar esta grande e alta prova do Seu amor, que consiste em sofrer por aqueles que amamos, e em sofrer por amor.

Aliás, não há mérito onde não há amor habitual de Deus. Se as dores da Santíssima Virgem não tivessem tirado a Sua origem de Seu amor, elas não teriam sido meritórias: do excesso de amor vinha o excesso de sofrimento.

4- Um quarto caráter das dores de Maria é a resignação com que ela suporta o peso de angústias que sobre Si se acumulam. Nada podemos imaginar de maior do que a violência dos tormentos de que foi torturado o coração maternal desta Virgem Santíssima.

"Mas, não! enganamo-nos, diz Santo Amadeu; acima dos sofrimentos e das dores de Maria há qualquer coisa de maior e de mais admirável - é a coragem com que Ela os suporta. O prodígio de Sua resignação tão calma eleva-A infinitamente acima do prodígio dos Seus sofrimentos. Vede: a Sua aflição está no auge, e, entretanto, Ela não se entrega a gemidos. O que Ela sofre é inexprimível, e, no entanto, Ela não está abatida - Ela fica de pé e imóvel, com uma constância e uma grandeza de alma que ultrapassam a grandeza do Seu sofrimento".
(Sto. Amadeu: Homil. 5 de mart. B. Virg)

E Santo Anselmo acrescenta:

"A Sua face não manifesta qualquer sinal de impaciência; os Seus lábios não proferem uma só palavra de murmúrio, de indignação ou de vingança; o Seu coração está repleto de amargura, e di-lo-iam impássivel; a Sua alma está abismada de dor e as lágrimas misturadas de lamentos. Ó maravilhoso acorde de pudor e de coragem, de paciência e de amor! A mais pura, a mais delicada e a mais tímida de todas as virgens é a mais magnânima, a mais heróica de todas as mulheres".

Em Sua alma mais do que crucificada é impossível descobrir-se o menor traço de indignação. Ela não faz o mínimo apelo à justiça; Ela vê tudo, mas só olha uma coisa: Jesus. O Seu coração se entrega à justiça divina, com a doçura e a resignação de um cordeiro, e Ela Se Lhe entrega toda inteira, com Ele e como Ele.

Quantos a desejar qualquer castigo para os outros, quaisquer que sejam, dos crimes que causaram ou cercaram este grande sacrifício, Ela não teve necessidade, nem o pensamento e, muito menos ainda, a tentação.

Por toda parte e sempre, mas sobretudo no Calvário, Ela é a "mulher", a mãe, a Virgem clemente, a advogada dos pecadores, a Mãe de Misericórdia.

Ó Maria, incomparável Virgem e Mãe, possa tanta ternura tocar enfim o meu coração e penetrá-lo de reconhecimento e de amor! Para me salvar e para me santificar é que sofrestes tanto!

Eu não posso reconhecer um tal benefício senão pelo amor. Fazei, pois, que a minha alma seja penetrada por ele e que eu viva dele, até à minha hora derradeira.

(Por que amo Maria, pelo Pe. Júlio Maria, continua com o post: A imensidade das dores de Maria)

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