Por Santo Agostinho.
Eu vou, com a graça do Senhor, vos entreter com a leitura do santo evangelho que acabais de ouvir, e com sua graça ainda, vos excitar a não deixar a fé adormecer em vossos corações em face das tempestades e das vagas deste mundo. Se o Cristo, nosso Senhor, foi realmente o mestre da morte, não foi ele também o mestre do sono? Seria verdade que o sono o tenha oprimido, ao Todo-Poderoso sobre o barco? Acreditá-lo seria uma prova de que ele dorme
O sono do Cristo significa então, ele também, algum mistério. Os navegadores representam as almas, que atravessam as ondas deste mundo sobre a madeira. O barco é a Igreja; com efeito, cada fiel é como o templo de Deus, e o coração de cada um como um barco: ele é preservado do naufrágio, se tem bons pensamentos. Tu ouviste uma palavra ultrajante, é um golpe de vento; tu te irritas, é a tempestade. Quando o vento sobe, quando a tempestade sopra, o barco está em perigo, teu coração está em perigo, ele é agitado pelas ondas. Tu desejas vingar-te da injúria ouvida; tu cedes assim sob o peso da falta do outro e tu naufragas.
Por que então? Porque o Cristo dorme em ti. Que significa isto? Que tu esqueces o Cristo; acorda-o, lembra-te dele, e então o Cristo em ti acordará; olha-o. Que querias? Vingar-te? Tu esqueces que ele disse dele mesmo quando foi colocado na cruz: Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem. Aquele que dorme em teu coração não quis vingar-se. Acorda-o, pense nele. Sua lembrança é sua palavra; sua lembrança é seu comando.
E quando ele estiver acordado em ti, dirás: “Quem sou eu para querer vingar-me? Quem sou eu para ameaçar um homem? Eu morrerei talvez antes de me ter vingado. E quando, suspirando, inflamado de cólera e alterado pela vingança eu deixar este corpo, não serei recebido por aquele que não quis vingar-se, por aquele que disse: Daí e vos será dado; perdoai e vos será perdoado. Assim, vou apaziguar minha cólera e voltar ao repouso de meu coração. O Cristo comandou ao mar e a calma se restabeleceu.” Que as ondas não vos submirjam perturbando vosso coração. Se entretanto, já que somos homens, o vento nos abate, se ele altera os sentimentos de nossa alma, não desesperemos: acordemos o Cristo, a fim de continuar a travessia pacificamente e de chegar à pátria.
Sermão de Santo Agostinho, pág. 223
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