A CRISE NA IGREJA
Foto de abertura do Concílio Vaticano II |
Que participação tem os bispos na crise atual da Igreja?
“A crise da Igreja é uma crise de bispos,” disse o Cardeal Seper. Entre os quatro mil bispos da Igreja Católica, há certamente os que querem ser católicos e servir a Fé; mas, com a maior parte deles a Fé é muito maltratada. Em vez de defendê-la, permitem padres e professores que negam abertamente uma ou muitas verdades de Fé; pior ainda, os encorajam. Muitos bispos sustentam, eles mesmos, posições incompatíveis com a Fé e a Moral católicas.
Pode-se citar alguns exemplos?
Na França, o Cardeal Lustiger, Arcebispo de Paris, falecido em 2007, dizia publicamente que os judeus não precisam se converter ao Cristianismo. O proselitismo com eles não teria nenhum sentido.
De modo análogo, Monsenhor Doré, Arcebispo de Estrasburgo (e antigo decano da Faculdade de Teologia do Instituto Católico de Paris), nega que os judeus, tendo recusado a Cristo, possam ser considerados “infiéis” e “cegos”: não são eles que devem se converter, mas ao contrário, os católicos que usurparam seu lugar, pretendendo-se o “Novo Israel”.
Podem-se citar outros exemplos de bispos traindo a Fé Católica?
São, infelizmente, abundantes. Em 2001, a Comissão Doutrinal dos Bispos da França encorajou publicamente a leitura da Bíblia das Edições Bayard, sublinhando “sua fidelidade profunda à Revelação Divina”. Ora, essa edição da Bíblia nega a historicidade dos fatos descritos nos Evangelhos. Em 2003, o bispo de Limoges, Monsenhor Dufour declarou no sermão: “Nós não sabemos se Deus existe. Não sabemos com certeza científica; mas podemos saber pela Fé.” Ora, São Paulo e a Igreja ensinam que a existência de Deus pode ser conhecida com certeza, pela razão, mesmo sem a Fé.” (Se alguém disser que o Único e Verdadeiro Deus, nosso Criador e Mestre, não pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, por meio da coisas que foram criadas, seja anátema. Concílio Vaticano I, Constituição Dei Filius, DS 3026).
Em 6 de novembro de 1997, durante uma conferencia em Berlim, o Presidente da Conferência Episcopal Alemã, Monsenhor Karl Lehmann, nomeou Lutero “Doutor Comum”, título que habitualmente dado pela Igreja a Santo Tomás de Aquino!
A lista desses exemplos poderia ser prolongada indefinidamente. É um fato, infelizmente, que numerosos bispos contradizem artigos de Fé fundamentais.
O Papa tem também parte na atual crise na Igreja?
Como já evocamos, uma das características da crise atual na Igreja é ser fomentada pelas mais altas autoridades da Igreja. Os papas, até o presente, favoreceram essa crise: 1°) apoiando teólogos modernistas; 2°) defendendo eles mesmos opiniões e promovendo ações inconciliáveis com a Fé católica; 3°) pondo obstáculos ao trabalho dos defensores da Fé.
O Papa João XXIII tem responsabilidade pela crise atual?
João XXIII (1958 – 1963) é o papa que fez explodir a crise que estava encubada há décadas. Apesar das vozes que o alertavam, convocou o Concílio Vaticano II. Seu aggionarmento virou a palavra de ordem de uma perturbação sem limites, assim como da introdução do espírito do mundo na Igreja.
Pode-se verdadeiramente repreender João XXIII pela convocação do Vaticano II?
Mais ainda pela convocação em si mesma, deve-se repreender em João XXIII a finalidade e o espírito dessa convocação. No discurso de abertura do Concílio, João XXIII, depois de ter lembrado que a Igreja nunca deixou de condenar os erros, continuou: “Mas, hoje, a Esposa de Cristo prefere recorrer ao remédio de misericórdia de preferência a brandir as armas da severidade. Ela pensa que, em vez de condenar, responde melhor às necessidades de nossa época colocando mais em destaque as riquezas de sua doutrina. Claro, não faltam doutrinas e opiniões falsas, perigos que se devem alertar e que se devem rejeitar; mas tudo isso é tão manifestamente oposto aos princípios da honestidade e trás frutos tão amargos que hoje os homens parecem começar a condená-las por si mesmos.”
O Papa opunha-se também aos “profetas de desgraças” e pensava que os desapareceriam por si mesmos “como neblina sob o sol”.
O que há de culpável nessas declarações?
Esse ponto de vista ingênuo não tem nada a ver com a realidade. O budismo, o islamismo, o protestantismo são erros que existem a séculos e nunca desapareceram por si mesmos. Ao contrário, propagam-se sempre mais, porque a Igreja hoje se recusa a condená-los. Na própria Igreja, apesar das previsões otimistas do Papa João XXIII, a Verdade não resplandeceu; pelo contrário, uma multidão de erros se espalhou.
Há outros exemplos do pacifismo de João XXIII?
Monsenhor Lefebvre, membro da Comissão Preparatória do Concílio foi testemunha de um episódio pior ainda. Quando se escolhiam os peritos do Concílio, ele se surpreendia de encontrar nas listas, contrariamente ao regulamento, ao menos três padres que tinham sido condenados por Roma por causa de sua doutrina. No fim da reunião, o Cardeal Ottaviani veio até Monsenhor Lefebvre e explicou que aquele havia sido o desejo expresso do papa. O papa queria no Concílio, peritos cuja integridade da Fé estava sujeita a precaução.
Qual foi a atitude de seu sucessor, o Papa Paulo VI?
O Papa Paulo VI (1963 – 1978), que continuou com o Concílio após a morte de João XXIII, apoiou abertamente os liberais. Nomeou quatro cardeais – Dopfner, Suenens, Lecaro e Agagianian – moderadores do Concílio. Os três primeiros eram liberais bem conhecidos; o quarto, uma personalidade pouco marcante.
Paulo VI não se opôs, durante o Concílio, aos bispos liberais (notadamente durante o que estes chamaram de “semana negra” em novembro de 1964)?
Paulo VI as vezes freou os liberais mais extremistas; mas, geralmente, favoreceu os liberais mais moderados. Em 7 de dezembro de 1965m declarou aos bispos reunidos para o encerramento do Concílio: “A Religião do Deus que se fez homem encontrou-se com a religião – pois o é – do homem que se faz deus. O que aconteceu? Um choque, uma luta, um anátema? Isso poderia ter ocorrido: mas não aconteceu. A velha história do Samaritano foi o modelo da espiritualidade do Concílio. Uma simpatia sem limites invadiu-o todo inteiro. A descoberta das necessidades humanas (e elas são tanto maiores quanto o filho da terra se faz maior) absorveu a atenção do nosso Sínodo. Reconhecei ao menos esse mérito, vós, humanistas modernos, que renunciais à transcendência das coisas supremas, e sabei reconhecer nosso novo humanismo: nós também, mais que quaisquer outros, nós temos o culto do Homem.” Discurso do encerramento do Concílio, em 7 de dezembro de 1965. DC 1462 (1966).
O que se deve pensar dessa declaração?
Pode-se compará-la à ordem dada por São Pio X em sua primeira encíclica: “É preciso, por todos os meios e ao preço de todos os esforços, desarraigar inteiramente essa monstruosa e detestável iniquidade própria dos tempos em que vivemos, e pela qual o homem se substitui a Deus.”
Nota: Na encíclica Supremi Apostolatus, São Pio X designava, no passado, como uma característica própria ao Anti-Cristo o fato de que o homem, com uma temeridade sem nome, usurpou o lugar do Criador, elevando-se acima de tudo o que carrega o nome de Deus. E a um tal ponto que, impotente para extinguir completamente em si a noção de Deus, ele se afasta do julgo de sua majestade e dedica-se a si mesmo o mundo visível como um templo, onde pretende receber as adorações de seus semelhantes.
De onde pode provir essa ideia de culto do homem?
A maçonaria, que tem por objetivo a destruição da Igreja Católica, prega o culto do homem. Ouvindo Paulo VI, os maçons devem ter saboreado seu triunfo. Não é exatamente a realização dos planos que forjaram no século XIX?
Como se podem conhecer os planos traçados pela maçonaria contra a Igreja?
Os planos da maçonaria são conhecidos, entre outros, pela correspondência secreta dos chefes Alta Venda italiana, que caiu nas mãos da policia do Vaticano em 1846 e cuja a publicação foi ordenada pelo Papa Gregório XVI.
O que prevêem esses planos maçônicos?
A correspondência apreendida e publicada mostra que os maçons queriam tudo empreender para que, um dia, pudesse subir no Trono de Pedro o que chamavam de “Um papa segundo nossas necessidades”. E explicavam: “Esse pontífice, como a maior parte de seus contemporâneos, estará necessariamente, mais ou menos imbuído dos princípios (...) humanitários que iremos começar a colocar em circulação (...) Vós tereis pregado uma revolução em tiara e pluvial, andando com a cruz e o estandarte, uma revolução que não terá mais necessidade de ser enfurecida, para colocar fogo nos quatro cantos da Terra.
Pode-se dizer verdadeiramente que Paulo VI foi esse papa imbuído dos princípios humanitários?
O hino seguinte, que foi entoado pelo Papa Paulo VI, quando o homem pisou na lua, poderia muito bem convir à boca de um maçom: “Honra ao Homem, ao Pensamento, à Ciência, à Técnica, ao Trabalho, à ousadia humana (...) Honra ao Homem, Rei da Terra e agora Príncipe dos Céus.” Paulo VI, 13 de julho de 1969, DC n° 1580 (1971), p. 156.
Paulo VI tem outras responsabilidades pela crise atual?
Paulo VI foi também o papa que introduziu o novo rito da Missa, cuja nocividade analisaremos em parte específica.
O que é preciso assinalar ainda sobre Paulo VI?
Foi sob o reinado de Paulo VI que começou a perseguição dos padres que queriam permanecer católicos e se recusavam a entregar os fiéis ao protestantismo, ao modernismo e à apostasia.
João Paulo II não operou uma reestruturação?
Dotado de um temperamento mais forte que Paulo VI, João Paulo II (1978 – 2005) podia parecer mais firme em certos pontos mas ele também se engajou mais resolutamente na via das novidades. Promoveu ações às quais, antigamente, estava ligada a nota de apostasia ou de suspeita de heresia.
Pode-se citar um exemplo?
Em 29 de maio de 1982, João Paulo II recitou o Credo com o pretenso arcebispo anglicano, Monsenhor Runcie, na Catedral Canterbury. Depois, ainda deu a benção com ele. O chefe anglicano estava vestido com todos os seus paramentos pontificais, embora não passasse de um leigo em razão da invalidade das Ordens Anglicanas.
Há outros exemplos do gênero?
Há piores: a cooperação em ritos idolátricos. Em agosto de 1985, João Paulo II participou de um rito animista num bosque sagrado, em Togo. Em 2 de fevereiro de 1986, em Bobaim, recebeu na testa o Tylak, simbolizando o terceiro de Shiva. Em 5 de fevereiro, em Madras, recebeu o Vibhuti (cinzas sagradas), sinal dos adoradores de Shiva e de Vishnu.
Até onde foi a cooperação do papa com os falsos cultos?
O triste ápice dessas atividades ocorreu na reunião de Assis de 27 de outubro de 1986. O Papa havia convidado todas as religiões do mundo para vir rezar pela paz, em Assis, cada uma seguindo seu rito. As igrejas católicas foram postas à disposição para a celebração de ritos pagãos. Na Igreja de São Pedro, fez-se mesmo entronizar uma estátua de Buda sobre o Tabernáculo.
Mas não é bom promover a paz e rezar nessa intenção?
Não é a paz, mas a idolatria e a supertição que são más, porque atentam gravemente contra a honra de Deus. Ora, uma boa intenção nunca pode permitir o cometimento ou o encorajamento de atos maus em si.
João Paulo II parou por ai?
Desde 1986, João Paulo II continuou a encorajar todos os anos as reuniões inter-religiosas do tipo de Assis. Mas ele também continuou com os gestos espetaculares de apoio às falsas religiões. Em 14 de maio de 1999, beijou publicamente o Alcorão. A fotografia desse gesto, abundantemente espalhada nos países muçulmanos, somente pôde confortar os maometanos em sua falsa religião.
Bento XVI não anunciou um retorno à Tradição?
Bento XVI é, sem dúvida, mais favorável a tradição litúrgica do que João Paulo II. Deu mais liberdade à liturgia tradicional por seu Motu Proprio de 07 de julho de 2007, apesar da oposição de numerosos bispos (notadamente na França e na Alemanha).
Mas se tem o coração tradicional, também recebeu uma formação modernista. Nos livros que escreveu quando era jovem teólogo, encontram-se numerosas afirmações contra a Fé, por vezes no limite da heresia. Mesmo que aparentemente tenha mudado de opinião sobre alguns pontos, não desautorizou seus antigos erros. Seu livro A Fé cristã ontem e hoje, por exemplo, ainda editado e vendido, coloca em questão, entre outras coisas, a Divindade de Cristo.
Bento XVI quer também salvar o Concílio Vaticano II. É por isso que tenta situá-lo na continuidade da Tradição. Veremos que isso é impossível.
Bento XVI promoveu gestos tão escandalosos como João Paulo II?
O Pontificado de Bento XVI apresenta-se mais sério do que seu predecessor. Apesar de tudo, já fez alguns atos que não são compatíveis com a Fé Católica.
Na Missa de exéquias de João Paulo II, onze dias antes de ser eleito papa, o Cardeal Ratzinger deu a comunhão na mão ao Irmão Roger Schtz, de Taizé, sabendo que ele era protestante.
No curso da mesma Missa, falou de João Paulo II “apoiando-se na janela da casa do Pai”, indicando assim que João Paulo II já estaria no Paraíso esmigalhando o Purgatório e procedendo a uma canonização instantânea.
Na sua primeira homilia papal, Bento XVI prometeu promover o diálogo ecumênico do qual o Papa João Paulo II se teria feito campeão.
Em 19 de agosto de 2005, apenas quatro meses depois de sua eleição, visitou a sinagoga de Colônia, dando assim a entender que o culto que lá é celebrado seria agradável a Deus (não se tratava, evidentemente, de um passeio turístico ou privado, mas de um gesto público, fortemente simbólico, que Bento XVI acrescentou por iniciativa própria, à agenda de sua visita à Alemanha).
Em 30 de novembro de 2006, Bento XVI se pôs descalço (e calçou calçados islâmicos brancos) para penetrar na mesquita azul de Istambul. Ali, depois de virar-se para Meca, recolheu-se por alguns instantes, de mãos cruzadas sobre o ventre. Aqui também sua atitude deu a entender que o culto praticado nessa mesquita era legítimo e agradável a Deus.
No dia 04 de fevereiro de 2008, Bento XVI modificou o Missal tradicional, suprimindo qualquer menção à cegueira dos judeus na oração feita na intenção dos mesmos, na Sexta-Feira Santa.
Fonte: Catecismo da Crise na Igreja – Pe. Matthias Gaudron – FSSPX – 2.011- Editora Permanência
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