Père Garrigou-Lagrange
La Mère du Sauveur et notre vie intérieur
Maria recebe
incessantemente de graça e de caridade, quando leva o Menino nos braços, O
alimenta, quando recebe Suas carícias, escuta Suas primeiras palavras, o
sustenta em Seus primeiros passos. “O Menino, entretanto –
diz São Lucas (II, 40) – crescia e se fortificava, estando cheio de sabedoria e
a graça de Deus estava nele.” Quando tinha doze anos, acompanhou a Virgem Maria
e São José a Jerusalém para celebrar a Páscoa, e no momento do regresso, ficou
na cidade sem que seus pais percebessem. Somente no final de três dias o
encontraram no Templo entre os doutores da Lei. E Ele os disse: “Porque me
buscavam? Não sabiam que devo me ocupar das coisas de meu Pai? Mas eles – faz notar
São Lucas, II, 50 – não entenderam o que os dizia.”
Maria Santíssima aceita
na obscuridade da fé o que não podia compreender; o mistério da Redenção se irá
revelando progressivamente em toda sua profundidade e extensão. Constituiu uma
grande alegria o encontrar Jesus, porém esta alegria deixava pressentir muitíssimos
sofrimentos.
Bossuet (1) faz
estas observações, a propósito da vida oculta de Nazaré, que se prolongou até o
ministério público de Jesus: “Os que se chateiam por Jesus Cristo e se
envergonham por vê-lo passar a vida em tão estranha obscuridade, se chateiam também
com respeito à Maria Santíssima e querem lhe atribuir inúmeros milagres. Mas
escutemos o Santo Evangelho: ‘Maria
guardava todas essas coisas em seu coração’ (Luc., II, 51)... Não é um
emprego bastante digno este de conservar em seu coração tudo o que havia notado
e visto de seu caro Filho? Se os mistérios de sua infância foram tão grato
passatempo, quanto não se alegraria em ocupar se e meditar em todo o resto da
vida de seu Filho? Maria Santíssima meditava em Jesus... permanecia em continua
contemplação, fundindo se e derretendo se, por assim dizê-lo, em amor e
desejos... Que diremos, pois, de todos esses que inventam belas lendas
referentes à Santíssima Virgem? O que vamos dizê-los se a humilde e perfeita
contemplação não os basta e satisfaz? Porém, se bastou a Maria e a Jesus,
durante trinta anos, não foi mais que o suficiente para a Virgem continuar
neste santo exercício? O silêncio da Escritura, com respeito a essa divina Mãe,
é mais sublime e eloquente que todos os discursos. Ó homem, demasiado ativo e inquieto por tua própria atividade! Aprende a
contentar se com escutar a Jesus em teu interior, lembrando-te Dele e meditando
em suas palavras... Orgulho humano! Porque queixais tu com teu desassossego,
por não ser nada no mundo? Que personagem foi Jesus nele? E entretanto, que
celebridade a de Maria! Eram a admiração do mundo, o espetáculo de Deus e dos
anjos! Que faziam? De que se ocupavam? Que fama tinham na terra? E tu queres
ter um nome e uma posição gloriosa? Não conheces a Maria nem a Jesus!
Dizes: não tenho nada que fazer; quando, em parte, a obra da salvação dos
homens está em tuas mãos. Não existem inimigos que reconciliar, diferenças que
eliminar, dissensões que terminar, do que disse o Senhor: ‘Tereis salvado vosso irmão’ (Mt., XVIII, 15)? Não existem
miseráveis que se há de impedir que murmurem, blasfemem, se desesperem? E quando tudo isso se tenha concluído, não
resta ainda o negócio de tua salvação, a verdadeira obra de Deus para cada um
de nós?”
Quando se medita na
vida oculta de Nazaré, neste silêncio e progresso espiritual de Maria, e
depois, por oposição, no que o mundo moderno chama com frequência de progresso,
se chega a esta conclusão: nunca se falou tanto de progresso como se esqueceu
do mais importante de todos, o progresso espiritual. O que aconteceu? O que
tantas vezes fez notar Le Play, que o progresso inferior buscado por si mesmo,
está acompanhado da facilidade do prazer, da ociosidade e descanso, de um
imenso retrocesso moral até o materialismo, o ateísmo e a barbárie, como mostram
muito bem as duas últimas guerras mundiais.
Em Maria, pelo
contrário, encontramos a realização cada vez mais perfeita da palavra
evangélica: “Amarás o Senhor teu Deus,
com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com
todo teu espírito, e ao próximo como a ti mesmo” (Lc., X, 27).
Quanto mais avança, mas
ama a Deus com todas as suas forças, ao ver, durante o ministério público de
Jesus, como se eleva contra Ele a contradição, até a consumação do mistério da
Redenção.
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