Novena ao Divino Espírito Santo
Meditações de Santo Afonso de
Ligório - Tomo II
Primeiro
dia – Sexta feira
Et
apparuerunt illis dispertitae liguae, tanquam ignis – “E apareceram sobre eles
repartidos como que línguas de fogo.” (At. 2,3).
A novena do Espírito
Santo é a primeira de todas, porque foi celebrada pelos santos apóstolos e por
Maria Santíssima no Cenáculo, entre muitos prodígios. Lembremos de que ao
Divino Paráclito é atribuído especialmente o dom do amor. Convém, portanto, que
nesta novena consideremos o grande valor do amor divino. Em primeiro lugar, o
amor é aquele fogo que inflamou todos
os santos a fazerem grandes coisas por Deus. Se quisermos também ficar
abrasados, apliquemo-nos sempre, mas em particular nestes dias, à oração, que é
a fornalha onde o fogo do amor divino se acende.
I – Deus ordenou na
antiga Lei que o fogo ardesse continuamente no seu altar. Diz São Gregório que
os altares de Deus são nossos corações, onde Ele quer que o fogo de seu santo
amor arda sem cessar. Por isso o Eterno Pai, não satisfeito em ter-nos dado
Jesus Cristo, seu Filho, para nos salvar por sua Morte, quis dar-nos ainda o
Espírito Santo, para que habitasse em nossas almas, e as conservasse
continuamente abrasadas de amor.
Jesus mesmo declarou
que descera à Terra exatamente para inflamar com este fogo sagrado nossos
corações, e que seu único desejo era vê-lo acesso: “Vim lançar fogo à Terra e que coisa Eu quero senão que se acenda?” (Lc
12, 49). Eis aqui porque, esquecendo as injúrias e ingratidões dos homens,
logo que subiu ao Céu, nos enviou o Espírito Santo. – Assim, ó Redentor
amadíssimo, na vossa glória, como nos vossos sofrimentos e humilhações, nos
amais sempre?
Pela mesma razão o
Espírito Santo quis aparecer no Cenáculo sob forma de línguas de fogo: “E apareceram sobre eles repartidos como que
línguas de fogo.” (At. 2,3). Por isso também a Igreja nos faz rezar com
estas palavras: “O Senhor, fazei que o vosso divino Espírito nos inflame com o
fogo que Jesus Cristo veio trazer sobre a terra, e que desejou tão ardentemente
ver brilhar nela.” – Foi este amor o fogo que inflamou os santos a fazerem
grandes coisas por Deus: amar os inimigos, a desejar os desprezos, a
despojar-se de todos os bens terrenos e a abraçar com alegria os tormentos e a
morte. O amor não pode ficar ocioso e nunca diz: Basta. A alma que ama a Deus,
quanto mais faz por seu amado, mais quer fazer ainda para mais lhe agradar e
ganhar mais e mais a sua afeição.
II – O Espírito Santo
acende o fogo do amor divino por meio da meditação: “Na minha meditação se acenderá o fogo.” (Sl 38,4). Se então,
desejamos arder em amor para com Deus, amemos a oração; ela é a feliz fornalha
em que o coração se abrasa neste ardor celeste.
Meu Deus, até aqui nada
tenho feito por Vós, que tão grandes coisas fizeste por mim. Ah! Quanto a minha
frieza deve mover-Vos a rejeitar-me! Peço-Vos, ó Espírito Santo: Aquecei o que está frio. Livrai-me de
minha frieza e inspirai-me um grande desejo de Vos agradar. Renuncio a todas as
minhas satisfações, e antes quero morrer do que Vos dar o menor desgosto. –
Aparecestes sob a forma de línguas de fogo; consagro-Vos minha língua, para que
não Vos ofenda mais. Ó Deus, Vós me destes a língua para Vos louvar, e dela
tenho me servido para Vos ultrajar e levar os outros também a Vos ofender!
Arrependo-me de toda minha alma.
Ah! Pelo amor de Jesus
Cristo, que na sua vida Vos honrou tanto com a língua, faça com que de agora em
diante não cesse de Vos honrar, celebrando Vossos louvores, invocando-Vos
muitas vezes, falando da Vossa bondade e do amor infinito que mereceis. Amo Vos
meu soberano bem; amo Vos Deus de amor. – Ó Maria Santíssima, sois Vós a Esposa
fidelíssima do Espírito Santo; obtende este fogo divino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário